sábado, 28 de julho de 2012

Um dia vamos rir de tudo isso,

é o que nos dizem. Um dia vou lembrar de quando eu ouvia as pessoas falando sobre coisas ilegais e fingia não me interessar/não gostar, quando na verdade eu queria fazer parte daquilo por alguns instantes. Um dia eu vou lembrar das festas em que eu subi no palco, dancei e vi algumas pessoas me olhando e perguntando umas às outras o que tinha acontecido comigo. Um dia eu vou lembrar de ter rido dessas pessoas. E vou rir mais ainda. Um dia eu vou lembrar das cervejas e das quatro tequilas bebidas de graça após uma comanda encontrada no chão. E da volta pra casa, pelas ruas frias e vazias da cidade, apenas sob o som dos nossos risos. Um dia eu vou lembrar do medo que eu senti em diversos momentos. Medo das pessoas, de olhares estranhos em minha direção, medo até mesmo de morrer ou de ver alguém morrendo na minha frente. Um dia eu vou lembrar dos cigarros que eu tentei fumar. Não sei tragar. O que tenho aqui dentro já é intragável o bastante. Um dia vou lembrar das vezes em que tirei a roupa por impulso, em que me deixei levar por sensações momentâneas e vou sentir nojo. Nao posso consertar, mas posso, sim, me arrepender. Só não se arrepende quem não está vivo. Quem só existe. Um dia vou lembrar das músicas que me faziam levantar da cadeira mesmo quando meus pés já doíam, mesmo quando o que doía mais era meu coração. Um dia vou lembrar das mesas arremessadas pela sacada, das meias deixadas em galhos de árvores, dos amigos sentados na calçada. Um dia vou lembrar das meninas. Dos banheiros. Dos bilhetes. Da vontade estranha que surgia em momentos inoportunos. Um dia vou lembrar do colchão vazio ao lado da minha cama pois, quem devia estar nele, estava do meu lado. Um dia vou lembrar de todos os textos que escrevi, de todas as cartas que mandei. Será que ainda guarda? Um dia vou lembrar da minha vida bilateral, dos meus romances que não saíam do papel. Um dia vou lembrar da minha maquiagem borrada, às vezes pela alegria da festa, às vezes pelas lágrimas derramadas em cima da mesa do bar. Um dia vou lembrar do moletom que eu cheirei por alguns dias e devolvi sem usar. É, não usei. Um dia vou lembrar de tantos nãos que eu disse, de tantos sins que eu falei e vou querer trocá-los de lugar. Não vou poder. Foi como tinha que ser. Um dia vou lembrar de quando me disseram eu te amo no meio de uma festa e eu não quis ouvir. Eu não disse eu também. Um dia vou lembrar da água sendo jogada nos meus cabelos, da fumaça impedindo minha respiração. Um dia vou lembrar da fogueira e dos vaga-lumes que apareciam, desapareciam, apareciam e desapareciam. O vômito, a louça lavada de manhã, as flores colhidas no jardim, o medo de cair do balanço. O medo de cair. Um dia vou lembrar do pôr-do-sol visto no melhor lugar do mundo quando eu ainda não dava tanto valor assim à ele. Vou querer voltar pra lá e vou voltar. Pra lembrar de tudo isso. Pra buscar o que um dia pode faltar em mim. Um dia vou lembrar de quando pouco ou quase nada importava, além daquilo que eu sentia. Mesmo sem saber o que eu sentia. Madrugadas insones escrevendo palavras que não fazem sentido algum pra quem lê. Um dia eu vou lembrar que fazer sentido não tem graça nenhuma. E é preciso haver graça, pois um dia vamos rir de tudo isso. É o que dizem.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

não é sobre você

já não associo as músicas a ninguém
não imagino que sou a protagonista do filme
não sonho antes de dormir
não escrevo sobre você

não me importo com os outros
não quero demonstrações públicas
só quero sentir algo único
mas não escrevo sobre você

escrevo sobre a dor
escrevo sobre o medo de cair
escrevo sobre não poder
não querer
não saber

as músicas agora são só minhas
os filmes apenas me fazem sorrir
eu sonho só depois de dormir

e você está aqui
nas estrelinhas do que eu ainda não ouso escrever

quinta-feira, 7 de junho de 2012

O que restou do conto de fadas

Passado e presente se misturam num mesmo momento. Pessoas que pareciam ter ido embora aparecem e pessoas que eu não quero que fiquem parecem nunca partir. Não sei mais se eu quero ficar. Não sei mais se eu quero olhar ao redor e ver o que vejo. Escutar as coisas que dizem e as coisas que não dizem mas que ainda assim eu posso escutar. Eu ouço o silêncio. Eu vejo o que ninguém vê. Eu sinto o que parece impossível de ser sentido. De ter sentido. As palavras são mal interpretadas e os sorrisos pré-julgados. Nem sempre estamos felizes. Nem sempre queremos estar onde estamos. Andamos por ruas frias e escuras, ao lado de pessoas que nem sabem o quanto são importantes. Seguramos copos cheios de líquidos ruins e fortes que acreditamos ser a solução momentânea para nossos problemas. Rimos, dançamos e acabamos sentados com a cabeça escorada na mesa desejando nada além do nosso travesseiro, das cobertas quentinhas que nos protegem do frio e do medo. Tudo pode acabar a qualquer instante e não sabemos o que vai começar em seguida. Não sabemos como as coisas vão ser quando mudarem. Porque sempre muda. Sempre há novas pessoas, novas músicas, novos olhares se misturando aos antigos e já conhecidos hábitos. Passado e presente se misturam numa mesma melodia. Sentimentos são jogados no meio da pista de dança e pisoteados por milhares de sapatos caros. Centímetros a mais pra quem nem quer ser alta. Cento e sessenta centímetros bastam para enxergar o mundo ao redor. Pra ver o quanto somos felizes quando não nos importamos com nada. Ou quando fingimos que não importa. Porque sempre importa. Não somos obrigados a sair. Não somos obrigados a ver o que não gostamos, a conviver com o que nos incomoda. Mas não queremos ficar em casa enquanto a vida acontece. Não queremos perder a chance de experimentar o que nos é oferecido e de guardar na bolsa o que nos repugna. Mantemos por perto aquilo que tememos. Provamos o que nos faz mal. Desejamos perder os sentidos pra ver se a dor diminui, pra ver se a insegurança dá uma trégua. Vemos o mundo girar ao nosso redor, como se as paredes fossem cair a qualquer momento. Mas somos nós que caímos. Diante da vida e do que nos aflige. Acabamos num táxi, com o rádio ligado numa estação popular que toca uma música que não gostamos. Lembrando de coisas que não gostamos. Procurando na bolsa o que sobrou de nós mesmos. Chegamos em casa quase sem voz, com rímel até a bochecha. É bom tirar os sapatos, botar os pés no chão outra vez e ter de volta apenas os centímetros necessários pra viver. Deitar na cama, sentir o quarto girando e ouvir as batidas de música que ainda moram nos nossos ouvidos. Fechar os olhos e sentir que tudo acaba aqui. Passado e presente se misturam e acabam na manhã seguinte quando, então, o futuro chega. E ele chega com o sol iluminando mais um dia frio. Alguns trocados ainda restam da noite anterior. Os sapatos estão jogados no chão e os cabelos pedem um pouco de água e xampu pra levar embora o cheiro de cigarro. O cheiro daquela parte de nós que às vezes aparece pra mostrar que algo está errado. Um banho quente e tudo parece melhorar. Mais uma daquelas soluções momentâneas para os problemas que insistimos em adiar. É difícil encará-los quando há tanto pra viver, tantas músicas pra cantar, tantas ruas frias pra andar ao lado daqueles que realmente importam. No fim de tudo, quando só resta o silêncio, nada mais importa além das pessoas. Não é preciso maquiagem, nem roupas da moda, bebidas geladas, cigarros ou salto alto. Não é preciso músicas remixadas, personagens de contos de fadas ou romances instantâneos. No fim de tudo, quando passado e presente se tornam um só, o que basta é quem continua aqui apesar de tudo. É quem te olha e não precisa falar nada para que você entenda que não está sozinho. Nenhuma droga é capaz de provocar o que um olhar provoca. Nada conforta mais do que saber que existe alguém por você. Existe e sempre vai existir alguém, mesmo nos momentos mais escuros. Mesmo quando nada faz sentido. Assim como esse texto.

domingo, 27 de maio de 2012

Wonderwall

And all the roads we have to walk are winding
And all the lights that lead us there are blinding
There are many things that I would like to say to you
But I don't know how

Essa é apenas uma música do Oasis para muitos. Pra mim, é a sua música. Ou melhor, a música que me faz lembrar de você, do dia em que eu não sabia pra onde olhar e como disfarçar minha cara de adolescente apaixonada. Ou pré-adolescente. Ou pré-apaixonada. Não sabia como não deixar transparecer o orgulho que eu sentia de você e o quanto eu gostava de ouvir a sua voz cantando Wonderwall. Cantando qualquer coisa. Seu jeito meio marrento de ser, um exibicionismo um pouco exagerado e quase despretensioso na maior parte do tempo. Tudo que eu sentia de bom por você se misturava e se confundia com o ódio que você provocava em mim. Eu queria te abraçar e ao mesmo tempo te dar um soco. Queria te beijar e ao mesmo tempo queria vomitar na sua cara. Queria te mandar calar a boca e parar de ser assim. Parar de rir de mim. Parar de ser tão indiferente e um tanto preconceituoso. Eu gostava tanto de ti. Eu te olhava tanto e você fingia não ver. Mas via. Você sempre me viu. Você sempre soube quem eu era e o que eu sentia e que, naquele momento, enquanto você cantava, eu te olhava e tentava disfarçar. Você sabia que num outro dia, quando te fizeram chorar, eu estava ali na sua frente sem saber o que dizer. Sem saber se eu passava a mão na sua cabeça, mexia nos seus cabelos e te dizia que não precisava chorar porque tudo ia ficar bem. Eu não sabia o que fazer. E não fiz nada. Fiquei ali, te olhando. Enquanto as pessoas ao redor achavam estranho o fato de alguém chorar por um motivo tão bobo, eu apenas te olhava. Era a prova de que por baixo de tanta arrogância tinha sentimentos bons. Tinha um pouco de fragilidade naquele menino que se mostrava tão forte e invencível. Lágrimas escorreram pelos seus olhos e você baixou a cabeça em cima da classe. Escondeu seu rosto pra ninguém ver. Mas eu estava bem na sua frente e podia ouvir. Seu choro. Assim como pude ouvir sua voz doce e macia cantando Oasis enquanto eu fingia que você era apenas mais um conhecido com um bom talento musical. Você não era só mais um. Nunca foi. Sempre foi importante, mesmo não dando nenhuma importância pra mim. E hoje, seis anos depois daquele dia, te ouço cantar uma música para aqueles se escondem. Talvez eu deva me encaixar neles. Eu me escondo às vezes. Concordo com alguém que fala mal de você e digo que não te suporto, mas não é verdade. Tá, é uma meia verdade. Mas a outra metade gosta um pouquinho de ti. Gosta de lembrar que tu é uma parte de mim que nunca vai morrer, um sentimento unilateral que vai continuar sendo unilateral pra sempre, mas não vai morrer. Não vou passar a canção. Não vou esquecer de quando falei contigo de madrugada, sem que você soubesse que era eu. Nunca ri tanto na minha vida. E nunca vou esquecer de você cantando Oasis. Nunca quis sorrir tanto na minha vida. Mas tive que conter os sorrisos pra tentar parecer normal. Pra tentar parecer imune a você. Não era. Não sou. Talvez nunca seja. Talvez você me atinja pro resto da vida com o seu olhar que finge não ver, com a sua voz que parece calar todos os sons ao redor. Talvez eu pergunte daqui a dez anos se você ainda lembra de mim e você diga que sim e eu ainda fique feliz com isso. Mas talvez você diga que não lembra. E aí eu não vou dizer quem eu sou. Vou simplesmente colocar meus fones de ouvido e sorrir todos aqueles sorrisos que escondi a seis anos atrás. Mesmo quando você não lembrar mais de mim, ainda lembrarei. Mesmo quando o silêncio surgir, ainda cantarei. Because maybe, you're gonna be the one that saves me. Maybe not.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Blusa colorida

Algo invadiu minha mente hoje. Algo denso, profundo e cortante. Não sei ao certo como surgiu, nem de onde veio, mas sei o que ele provocou. Quando minha mente foi invadida, senti um aperto no peito, um nó na garganta. Senti lágrimas querendo sair dos olhos, mas permanecendo lá porque ainda não é hora de rolar pelo rosto. Queria ser capaz de definir essa sensação que me invadiu, mas creio que é impossível. Me senti frágil, precisando de abraços quentes, precisando de alguém pra me proteger do mundo e das coisas horríveis que descubro nele a cada dia. Percebi que, às vezes, eu sou a culpada das coisas ruins que me acontecem. Eu ajo errado, eu faço coisas sem pensar, sem notar às vezes. Sinto vontade de abraçar alguém, mas não abraço porque algo me trava, me impede de fazer o que quero. Tenho vergonha de demonstrar meus sentimentos e de falar. Escrevo sobre eles constantemente, mas quando preciso da voz ela não sai. Quando preciso que os meus braços fiquem em volta de um outro alguém, eles simplesmente ficam grudados no meu próprio corpo. Sorrio por dentro achando que estou sorrindo por fora também quando, na verdade, estou com uma expressão que não define nada do que estou sentindo no momento. Será que isso tem cura? Será que um dia vou conseguir agir exatamente da forma como quero e como me sinto? Será que um dia vou parar de me importar com o mundo ao meu redor e com o que vão pensar a respeito das minhas atitudes? Hoje algo estranho me invadiu e, por um segundo, eu vi tudo ficar escuro. Eu me senti sufocada dentro de mim. Dentro dos meus pensamentos que não cessam, dos meus sonhos utópicos, das minhas ilusões que insistem em continuar preenchendo minha mente e fazendo com que eu dê com a cara nos postes por aí. Dói. Dói bater a cabeça e dói mais ainda não poder fazer nada pra parar essa sensação estranha que apareceu hoje. Talvez seja apenas um reflexo do dia cinza, ou talvez aqui dentro é que esteja tudo cinza. Preciso mesmo vestir aquela blusa colorida. Preciso mesmo passar batom e deixar de ser tão assim. Tão branca, tão quieta, tão eu. Não vou deixar de ser eu. Mas preciso encontrar um eu melhor. Um eu que sinta na medida certa, que chore uma quantidade normal de lágrimas por ano, que não tenha vergonha de distribuir abraços, não importa pra quem seja e onde estivermos. Se for menino, menina, cabelo curto ou comprido, loiro, moreno ou ruivo, não importa. Se alguém estiver olhando, se alguém estiver comentando, rindo ou debochando, importa menos ainda. A única coisa relevante é o que acontece comigo. É o que eu sinto, o que eu penso, quem eu sinto, quem eu gosto. E não gosto disso que invadiu minha mente hoje. Não gosto de sentir esse aperto no peito, essa sensação de que algo está preso na minha garganta, me sufocando. Quero sorrisos. Quero sol. Quero a minha blusa colorida e a coragem pra abraçar meu amor, seja quem for.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Vamos nos permitir

E se eu mudar de lado? E se eu acordar amanhã e discordar de tudo que eu mesma disse no dia de hoje? E se eu resolver, de uma hora pra outra, trocar de time, usar roupas de um estilo totalmente diferente do meu, frequentar lugares que antes eu nem gostava de passar na frente? Será que as pessoas vão me julgar?
É da natureza humana essa dificuldade de lidar com mudanças e, quando diz respeito às pessoas que estão ao seu redor, amigos e familiares, a dificuldade fica maior ainda. Não é fácil aceitar que aquele seu primo fanático pelo Grêmio agora virou colorado e aquela sua amiga, que sempre falava mal dos roqueiros, agora vive frequentando bares de rock. Não é fácil. Mas a vida é assim. Num dia chove e no outro faz sol e temos que nos adaptar ao clima. Assim como temos que nos adaptar às mudanças.
Ninguém é obrigado a agir da mesma maneira a vida inteira. Como diria Raul Seixas: “Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo.” Eu prefiro me permitir mudar. Conhecer o outro lado da história, descobrir coisas que eu nunca tinha visto, experimentar coisas novas, até mesmo aquelas que antes me repugnavam.
Só temos uma vida e não podemos deixar de aproveitar cada segundo dela por estarmos presos a paradigmas ou por medo do julgamento alheio. Assim como é preciso aceitar que os outros também vão mudar. As pessoas, mesmo aquelas que conhecemos há anos, sempre vão nos surpreender, de maneira positiva ou negativa. E o mundo vai continuar girando e deixando pra trás aqueles que resolveram ficar parados, estagnados naquela velha opinião formada.
Então, antes que o mundo gire e te deixe pra trás, pense naquela lista de coisas que você disse que nunca ia fazer e risque o “nunca”. Troque de opinião, se for preciso. Vá a lugares que você nunca imaginou, use algo incomum, pinte o cabelo, ouça músicas de um estilo diferente daquele que você sempre ouve, experimente o que antes você costumava manter à distância. Permita-se. Não tenha medo, nem vergonha, de mudar de lado.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

O menino que não gostava de música

Igor era um garoto que não gostava de escutar música. Apesar de seu estilo meio roqueiro, aquilo nada tinha a ver com o que o garoto escutava. Porque ele simplesmente não escutava nenhum ritmo, nenhuma melodia. Tinha um rádio no quarto que havia sido ligado apenas uma vez, mas na metade da primeira música o cômodo já estava no mais puro silêncio outra vez.. Os pais de Igor tentavam de tudo. Colocavam CD's pra tocar com o objetivo de chamar a atenção do menino para as canções mas, assim que se ouvia o primeiro verso da primeira música, Igor já estava trancado novamente no seu quarto. Nem mesmo psicólogos e psicanalistas conseguiram compreender o porquê deste repugno pela música. Igor não ia a festa nem bares, tinha vários discos que ganhara de presente, mas nunca ouvia nenhum deles. Até que um dia, o silêncio morreu.
Numa tarde de domingo, enquanto o garoto andava pelo parque olhando as crianças que brincavam na grama e ouvindo apenas o som de risos e conversas alheias, um outro ruído lhe chamou a atenção. Mas não era um ruído, era uma melodia macia, que parecia lhe acariciar os ouvidos. Igor parou. Tentou identificar de onde vinha aquela voz e então seguiu o som. Foi quando a viu. Uma menina de cabelos cacheados, vestida num estilo meio hippie, meio rock, sentada na grama, sobre uma manta florida. Ela tocava violão com tanta leveza, que parecia estar passando os dedos nos cabelos de alguém que gostava. E sua voz era ainda mais linda quando se ouvia de perto. Igor nem conseguia prestar atenção na letra, não importava pra ele o que a música dizia, pois qualquer coisa dita ou cantada por aquela voz de cabelos cacheados se tornaria poesia.
Igor ficou escutando a música por alguns minutos e, então, foi embora. Foi embora antes da canção acabar, porque não queria presenciar o fim de algo tão perfeito. Foi embora sem falar com a moça, pois não queria perturbá-la com sua voz grossa e feia. Não queria falar com ela porque, se falasse, ela se calaria e o que Igor queria guardar na memória era o som daquela voz infinita.
Naquele dia, quando chegou em casa, estava com um sorriso no rosto. A mãe do garoto achou estranho, pois ele estava sempre sério e quieto. Pela primeira vez, ela ouviu um 'eu te amo' vindo da boca do filho e recebeu dele o abraço mais caloroso de toda sua vida. Igor deixou a mãe sorrindo na cozinha e foi para o quarto. Tirou todos os CD's da prateleira, ligou o rádio e começou a escutar cada um deles mas, desta vez, prestando atenção na letra. E foi então que percebeu como as músicas podiam lhe dizer coisas lindas, algumas alegres e outras tristes, e como era possível se identificar com vários versos das canções. 
O garoto ficou horas trancado no quarto, entorpecido com acordes e melodias. Não encontrou nenhuma voz tão linda e mágica como a da menina do parque, mas encontrou outra coisa muito mais importante. Igor encontrou vida dentro de si mesmo. Às vezes a gente só precisa abrir os olhos - e os ouvidos - para perceber que o mundo é bem maior que o nosso quarto, que existem muitas coisas lindas para serem vistas e ouvidas e que o preconceito, seja ele qual for, só nos impede de ouvir a música. Quando entendermos o que as letras dizem e o que o som das vozes nos provoca, vamos parar de julgar aqueles que dançam.
Agora, Igor dança. Em festas e também sozinho no seu quarto. Nunca mais viu a menina do parque, mas nunca vai esquecer que, apenas com o som da sua voz, ela conseguiu mudar a vida dele. Pra sempre.

domingo, 29 de abril de 2012

Esquina

Quando chega a hora de falar, nenhum dos dois diz sequer um oi. Quando chega o momento de encarar, os dois viram pro lado e olham para qualquer coisa que não seja os olhos um do outro. Talvez seja medo. Talvez seja insegurança. Talvez seja esperar pra ver se o outro quer tanto quanto você quer. Ou todas as alternativas anteriores. Tem coisas que são tão complicadas de entender. Quando é difícil, nós queremos, lutamos e varremos o medo pra debaixo do tapete. Quando é fácil e o sentimento parece ser recíproco, ficamos estagnados no meio do caminho. Não vamos nem pra frente e nem pra trás. Não desistimos, mas ainda não sabemos ao certo o que queremos. Se queremos. O momento anterior ao sim ou ao não é o mais perigoso. E se? E se der tudo errado? E se a gente se arrepender de ter jogado tudo fora outra vez? E se a gente sofrer por não ter desistido? E se a gente não fizer nada e a vida passar por cima de nós, como um caminhão descontrolado no meio da estrada? Não fique parado no meio da estrada. Ande. Siga em frente, não importa a direção. Quando chega a hora de falar, é preciso falar. Dizer qualquer coisa, mesmo que depois cada palavra dita nos cause arrependimento. É melhor do que se arrepender pelo silêncio. Pelo vazio de não ter tentado nada. Quando chega o momento de encarar, é preciso olhar pra frente. Mesmo que se decida voltar e desistir de tudo, primeiro é preciso levantar a cabeça e ver o que está diante de nós. Pode não ser nada. Mas pode ser aquilo que vai mudar a nossa vida, aquilo que vai nos tirar do tédio e da inércia total. Não adianta esperar pra ver se o outro quer tanto quanto você, porque, na maioria das vezes, ele também está esperando. E, durante essa espera, muita coisa se perde. Muita coisa se esquece. Muita coisa muda. Tudo fica pequeno demais. Esperar muito faz aquilo que podia ser a melhor coisa da nossa vida virar mais um nada sem importância. Esperamos tanto porque temos medo. Porque não sabemos o que nos aguarda depois que virarmos a esquina da solidão. Talvez a gente se perca no meio da multidão e nunca mais consiga voltar. Mas talvez a gente encontre alguém pra segurar a nossa mão e nos mostrar o caminho de volta pra casa. Só o que a gente precisa fazer é andar.
O máximo que pode acontecer é você ter que voltar alguns quarteirões. Mas nada é pior do que não sair do lugar.

arrepio

não sabe quem sou
não lembra onde viu
não olha para os lados
não ouve o assobio

te vejo de longe
e reconheço à distância
depois chega perto
e quase me alcança

mas não sabe quem sou
por isso nem viu
que ali do teu lado
senti um arrepio

sexta-feira, 27 de abril de 2012

uma verdade

pra você, deixo claro que tudo é mais que uma bobagem, que você é uma grande bagagem, que vem e vai com o vento, que anda no deserto imenso, sozinha, buscando alguma razão pra não permitir ser amada. pra você, um grande pretexto para as mentiras bobas, que é dona de uma verdade escancarada.

Caio Caprioli

domingo, 15 de abril de 2012

Acreditem na frase do muro.

É tudo estranho demais. Saio de casa e vejo escrito no muro que 'o amor é importante, porra'. Passo alguns momentos ao lado das pessoas que eu mais amo no mundo e me sinto a pessoa mais feliz da cidade. Pra completar, ainda vivo uma daquelas cenas que, na minha cabeça, parecem ter saído de um filme de comédia romântica: eu e meus amigos pulando no meio da multidão e cantando que encontramos amor em um lugar sem esperanças. Encontramos amor num lugar onde as pessoas pedem amor nos muros e depois veem olhares de reprovação pelas suas atitudes, sejam elas quais forem. Me disseram que não preciso explicar minha vida pra ninguém e sei que realmente não preciso. Mas às vezes tenho vontade de explicar. Pra ver se alguém entende, pra ver se existe alguém com a mente minimamente aberta pra me deixar entrar. É tudo estranho demais. As pessoas gostam da boca pra fora, gostam até achar algo melhor, gostam até descobrir que você não é tão perfeito como elas pensavam. Deus me livre de ser perfeita. A perfeição me faria perder a parte divertida da vida. A perfeição me impediria de conhecer pessoas novas, de sentir coisas novas, de rir das coisas mais idiotas, de dançar mesmo sem saber muito bem o que fazer com as pernas e com os braços. A perfeição me impediria de ir atrás do que quero, mesmo quando não sei muito bem que porra é essa que eu quero. É tudo estranho demais. Voltando pra casa, vi a morte passar na minha frente. Por um triz, não deixei a vida pra sempre. Se o beijo no rosto de cada um que estava no carro não tivesse acontecido, eu não estaria aqui escrevendo esse texto. Eu não estaria aqui dizendo que tudo é muito estranho. Um segundo muda tudo. E é por isso que ando aproveitando cada um deles, muitas vezes esquecendo um pouco de me preocupar com os outros. Fiz isso por tanto tempo que cansei. Na hora certa, alguém vai entender tudo sem eu precisar explicar. Na hora certa, os clichês vão começar a fazer mais sentido do que já fazem. Ainda tenho esperança de que um dia as pessoas vão entender aquela bendita frase escrita no muro.

Peguei o papel principal pra mim
Das cenas que antes eu só comentava
E assumi que o mundo não me deve nada
O que eu quiser vou ter que buscar.

Se até a morte é um plágio
Pra que levar tudo tão a sério?
Por que que a gente só aprende a viver depois
De um suicídio ao contrário?

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Me deixa entrar?

Eu quero te salvar. Ainda não sei bem do quê, nem de quem, mas sinto que você precisa. Que eu preciso. Faz tão pouco tempo, não sei nada sobre você, além de besteiras do cotidiano e entrelinhas dos seus textos. A gente olha para uma pessoa e ela ri, a gente lê essa mesma pessoa e ela chora. Você chora. E eu quero te abraçar, deixar que você deite a cabeça no meu ombro e dizer que não somos pequenos apenas na altura, nós somos pequenos diante do mundo, diante de tudo. Nossos problemas parecem - e realmente são, às vezes - grandes, mas não são nada perto de tantas outras coisas que acontecem por aí, de tantas outras dores. Mas eu sei que, mesmo assim, dói. O menor caco de vidro pode cortar. E eu quero curar teus machucados. Eu quero te ver sorrindo mais vezes e por motivos reais, não apenas por força de expressão. Eu quero entender. O porquê de eu sentir tudo isso, o porquê de tanto afeto em tão pouco tempo. Eu quero entender você, pois nem ao menos sei o que você prefere, quem você é. Mas sei um pouco do que sente. E quero te salvar. Do mundo, que nos assusta e nunca é como queremos e das pessoas, que fogem e vão embora pra sempre na primeira oportunidade. Eu não vou embora, se você me quiser por perto. Eu estou batendo na porta e torcendo para que você me deixe entrar. Eu quero ficar aqui. Quero abraçar e conhecer os detalhes de quem se esconde, mas sempre arruma um jeito de gritar pro mundo todo a sua dor. Me deixa te salvar?

I want to save you,
I need you save me too.

sexta-feira, 30 de março de 2012

Pisquei.

As coisas acabam tão rápido. O tempo passa e a gente nem vê. Relações se desgastam e pedras furam de tanto a água bater. E como bate. Águas jorram por todos os lados, por todos os olhos. Escorrem pelas ruas, pelas maçãs do rosto. E eu como. A maçã. E eu corro. Pela rua. Pra fugir de tudo que chega, de tudo que no outro dia já acaba. Pra fugir de todo mundo que foge. Que se esconde. Pra fugir de mim que sou assim também. Os dias acabam tão rápido. A noite passa e a gente nem vê. Já é hora de levantar outra vez, começar de novo, acabar de novo. É hora de conhecer novas pessoas que não irão preencher o lugar de ninguém. Somos todos insubstituíveis. Acabamos e não há nada que ocupe nosso lugar quando partimos. E sempre partimos. Para novos lugares, para novos sonhos, novos amores. Deixamos pra trás o que já não importa mais. Deixamos que se apague aquilo que já não faz sentido. Quem antes era mais que um amigo, agora já nem é mais. Não somos. O que dizem. Não somos. O que pensamos ser. Por mais que nos esforcemos para ser o que queremos, seremos sempre o que os outros veem. Os olhos alheios não mentem. Os nossos sim. O espelho também. Amores acabam tão rápido. Mas não são amores, pois estes não acabam. Verdades são infinitas. Mentiras terminam num piscar de olhos. Pisquei. E não te achei. Sumi também. Não sei em quem acreditar. Não sei quem acredita em mim. As pessoas passam e a gente nem vê. Algumas param por um tempo. Deixam aqui seu perfume, seus gestos, seus sorrisos, seus gritos. Algumas correm. Levam seus cheiros para outros travesseiros. Às vezes voltam. Às vezes esquecem. People always leave. People always cry. Porque as coisas acabam. Porque tudo se vai. Te amo vira obrigada. Lágrima vira pedrada. Que tanto bate até que fura.

domingo, 25 de março de 2012

Unilateral

Sabe, não adianta nada dizer que eu não me importo. Não adianta nada dizer que eu já sabia que isso ia acontecer, que eu acordei com um pressentimento estranho e que na verdade eu não gostava tanto assim. Eu realmente acordei com um pressentimento ruim, mas eu gostava muito. Eu tinha medo que isso acontecesse, mas não pensei que ia ser tão cedo e tão dolorido assim. Eu me importo, sim. Eu estou triste. Com você, por achar que pode fazer o que quiser comigo e depois me jogar fora, e comigo, por achar que você era diferente. Mas você é igual a todos. Você chegou, me viu e fingiu não ver. Você me viu do seu lado, dançando, e virou as costas porque prefere dançar com seus amigos antipáticos que me cumprimentam forçadamente, como se fosse uma obrigação ter que me dar oi. Como se fosse um peso nos ombros aguentar minha presença. Foi assim que eu me senti. Pesada. Carregando um peso enorme dentro de mim e uma dor enorme no peito que aumentava cada vez que via a cor do seu cabelo. Cada vez que olhava pra você, sentado numa mesa, sorrindo e tirando fotos alegremente como se nada tivesse acontecido. Como se eu nunca tivesse entrado na sua vida. Como se meus olhares pra você e os beijos e os abraços e as mãos dadas nunca tivessem existido. Sentimento unilateral. Foi isso que aconteceu entre nós. Ou melhor, foi isso que aconteceu comigo. Nunca existiu nós, a não ser na minha cabeça. Nunca existiu um futuro, um presente e o passado eu quero esquecer. Quero esquecer que esperei mensagens suas antes de dormir e que fui dormir tarde tendo que acordar cedo no outro dia só pra ver seu rosto na webcam. Não quero mais ver seu rosto. Não quero mais nada, apesar de ainda me importar muito. Ainda me sinto triste com tudo isso, me sinto machucada e desprezada. Mas sei que sou melhor do que isso. Mereço muito mais do que isso, muito mais do que você. Não quero cigarros, festas e dez minutos de companhia na sexta-feira antes da aula. Quero verdade. Quero alguém que não vá embora antes da música acabar.

Eu tô ficando com uma sensação que eu fui a pista e você o avião, você o trem e eu a estação.
Oh baby, I don't love you.

sábado, 3 de março de 2012

O que tem pra hoje

Um daqueles dias em que o medo e a coragem tomam conta de você ao mesmo tempo. Você não sabe se volta alguns passos pra trás ou se corre adiante, então resolve ficar parado exatamente onde está. Não estagnado, esperando que as coisas aconteçam sozinhas. Apenas parado. Dando tempo ao tempo. Deixando que os pés fiquem no chão, seguros. Às vezes é bom pular e se arriscar em coisas novas, mas eu já fiz isso ontem. Hoje vou ficar aqui. Não exatamente aqui, na frente do computador, mas aqui. No chão. Hoje não quero imaginar nada. Não quero que minhas expectativas se tornem realidade, porque hoje simplesmente não tenho nenhuma expectativa. As que eu tinha, já me presentearam com momentos bons ontem e talvez eu ainda tenha mais alguns em breve, mas por enquanto vou viver da realidade. Do que está aqui e não lá. Do que eu posso tocar e sentir e não apenas sonhar. O medo e a coragem estão sentados lado a lado no meu peito hoje. Eles estão no meio de uma discussão intensa sobre aquilo que eu devo ou não fazer, sobre o que eu devo ou não querer. Mandei os dois calarem a boca. Hoje não quero ser medrosa nem corajosa. Só quero ser. Com ou sem você. Com ou sem ele. Com ou sem qualquer pessoa desse mundo. Apenas eu. Acho que hoje eu estou muito eu. Mesmo que, na maior parte do tempo, eu nem saiba muito bem quem sou.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Pés gelados

Tá calor, mas os meus pés estão congelando. Eu sou assim, fria. Nem o calor mais extremo faz as minhas extremidades esquentarem. Por isso eu queria você aqui e não aí. Por isso eu também queria que sua cidade começasse com C e não com B. Por isso eu queria que você soubesse onde eu moro e viesse correndo encostar os pés nos meus e as pernas nas minhas e seu corpo inteiro no meu corpo pra me esquentar. Porque ainda é verão, mas eu estou com frio. Ainda é verão, mas o horário de inverno já voltou e escurece tão cedo que eu tenho vontade de fechar as cortinas as 8 da noite e dormir até que o sol volte ou até que você me acorde. Mas eu não durmo tão cedo. Eu não durmo cedo porque ainda sou viciada em reality shows inúteis que não acrescentam nada na minha vida, mas que ainda me fazem rir e esquecer um pouco de pensar em todo o resto. Eu não durmo cedo porque gosto de falar com você, mesmo de longe. Gosto de ler as coisas engraçadas que você diz, gosto de morrer de rir as duas da manhã e quase acordar a família inteira. Minha mãe sempre pede porque eu dou tanta risada na frente do computador. Eu digo que não é nada, mãe. Porque se eu dissesse, ela não entenderia. Tem tanta coisa que ela não entenderia. Tanta coisa que eu também não entendo, então não posso te explicar, mãe. Quem sabe um dia. Quem sabe amanhã. Quem sabe nunca. Quem sabe os pais não precisem saber de tudo, afinal. É bom poder dividir as coisas com as pessoas que eu mais amo no mundo, mas acho que existem coisas que foram feitas pra ser só minhas e de mais ninguém. Ou minhas e suas. Porque tem gente que grita na frente de todo mundo aquilo que eu nem sei se realmente sou e tenho medo de ser e tenho vontade de calar a boca dessa gente que me faz rir, mas também me dá medo. Acho que o medo está tomando conta de mim ultimamente. Assim como o frio fora de época toma conta dos meus pés e eu não tenho ninguém pra me esquentar. Ninguém pra dizer que eu não preciso ter medo. Eu sei que eu não preciso. Eu sei que, no fundo, eu sou corajosa e não vou me abalar. Eu sei que é só eu deitar na cama e me cobrir com uma coberta bem quentinha que o frio vai passar. Mas sabe, não era bem uma coberta que eu queria.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

I found love

Hoje andei por alguns minutos num dos lugares onde mais me sinto bem no mundo. Hopeless place onde, por ironia do destino, we found love. Lá, eu encontrei o que procurei durante todos esses dezenove anos da minha vida. Encontrei amigos. Um totalmente diferente do outro, um pra cada momento e pra cada coisa que eu preciso falar. Tem amigo pra rir, pra chorar, pra se apaixonar e desapaixonar sem nunca deixar de gostar, pra ouvir música e lembrar, pra contar todos os segredos, pra contar só algumas coisas, pra viver os melhores dias da minha vida. Encontrei os melhores dias da minha vida. Encontrei o meu lugar fora de casa, fora do meu quarto, fora do meu mundinho particular que eu tanto gosto mas que tanto me faz mal às vezes. Encontrei, depois de tanta dúvida, o que eu quero ser um dia. Meus objetivos, meus sonhos. Vou atrás de todos, fechando os ouvidos pra quem diz que algum deles é impossível. Encontrei, principalmente, eu mesma. No meio de cadernos, livros, aulas chatas, trabalhos deixados pra última hora, risadas, cervejas tomadas numa segunda-feira, picolés que deixam a língua azul, meias penduradas em árvores, festas que se misturam, bochechas vermelhas e textos que não deveriam ser postados mas que vão continuar sendo postados porque é isso que eu sei fazer. Escrevo sem precisar me esconder. Se não gosta, se acha que eu me exponho demais, para de ler. Simples assim.
Hoje fui num dos lugares que mais me faz bem no mundo. E ele estava praticamente vazio. Só se ouvia o barulho dos pássaros e de uma criança brincando perto do chafariz. Meu sonho é me jogar naquele chafariz. Meu sonho é um dia poder olhar pra trás e lembrar de tudo que estou vivendo e tudo que ainda vou viver e poder dizer que valeu a pena. Valeu a pena ficar quase um ano longe desse lugar porque voltei na hora certa. Voltei pra conhecer as pessoas que realmente importam na minha vida. Voltei pra descobrir quem eu sou de verdade. Se meus antigos amigos, ou seja lá o que eles eram, me vissem agora, talvez não acreditassem. Tenho, sim, saudades de coisas que ficaram pra trás. Mas prefiro que elas fiquem lá atrás mesmo. Gosto muito mais de mim agora.
Hoje andei por alguns minutos num dos lugares que eu mais me sinto bem no mundo. Estava vazio. Mas semana que vem tudo volta ao normal. Meus dias vão ganhar cor novamente, meu sorriso vai ser maior, meus trabalhos vão continuar sendo deixados pra última hora. Só uma coisa vai mudar. Nossa amizade vai estar bem maior. Mais forte. Não precisamos estar na mesma sala de aula. Não precisamos ter os mesmos sonhos pro futuro. Podemos ser jornalistas, professores, historiadores, publicitários, fotógrafos, estilistas, não importa. We found love in a hopeless place. E, olha só, era verdadeiro.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Destrancada

A porta do meu quarto nunca fica trancada, a não ser quando estou dançando loucamente com os meus fones no ouvido e não quero ser pega no flagra no meio de uma coreografia não planejada. Meus cadernos, onde escrevo praticamente minha vida toda e tudo aquilo que sinto, não ficam escondidos e guardados a sete chaves. Minhas agendas de 3, 4 anos atrás estão ali, na gaveta da escrivaninha. Minha caixa de lembranças particulares está guardada na porta do meio do guarda-roupa, ao lado de alguns sapatos. É só abrir a porta do quarto pra ver o que eu estou fazendo. É só pegar meus cadernos, ler cada palavra que eu escrevo e, assim, descobrir tudo aquilo que sou e penso. É só abrir a gaveta pra saber tudo que fiz nos últimos tempos. É só abrir o guarda-roupa e a caixa pra saber alguns dos meus maiores segredos. Estou toda aqui, pra quem quiser ver. A única proteção que tenho é uma porta destrancada e capas de cadernos.
Nem me esconder eu sei.

Como você ainda não percebeu?

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Antes que alguém me mande calar a boca

Um misto de felicidade com dor. Vontade de gritar porque finalmente está acontecendo o que eu sempre quis e vontade de gritar porque eu não sei o que fazer agora. Mesmo quando está tudo certo, está tudo errado, disse eu pra uma amiga algumas horas atrás. Frase mais idiota que eu já disse na minha vida, mas talvez seja uma das maiores verdades também. Sempre quis receber as mensagens que eu recebo agora, sempre quis ter essa sensação de que uma pessoa no mundo gosta de mim ao mesmo tempo que eu gosto dela. Mas junto com tudo isso, vem a impossibilidade de estar com ela sempre que eu quiser, porque mesmo cidades vizinhas parecem estar do outro lado do mundo nesses momentos. Junto com isso vem o medo de não dar certo e sofrer ou de dar certo e aí ter que enfrentar o mundo, como disse minha amiga naquela mesma conversa. Aliás, falando nessa conversa, eu nunca pensei. Nunca imaginei que ela aconteceria. Não assim, não sobre isso, não tão delicada e querida desse jeito. Poucas pessoas sabem o que está acontecendo comigo. Todas essas poucas pessoas me apoiam, me dão conselhos, me fazem rir da situação. E não pensei que ia ter mais alguém pra me apoiar. Quero fazer parte da tua vida, não quero que tu se machuque, ela te faz bem?, ela é gente boa?, por que a vida é tão complicada?, disse minha amiga. Também quero muito que tu faça parte da minha vida, também não quero me machucar mesmo sabendo que qualquer coisa nesse mundo machuca, desde a quina da mesa até o amor mais profundo, ela me faz bem mas ela espalha todos os meus pensamentos em cima daquela mesma mesa que machuca, embaralha e depois pede pra eu arrumar em ordem e sabe, eu não sei que ordem é essa. Eu não sei qual é a ordem certa dos acontecimentos, porque eu nunca vivi nada disso e aí atropelo tudo. A vida é complicada porque a gente complica as coisas, amiga. Porque a gente sente demais e quer demais, porque a gente nem ao menos sabe o que sente e o que quer. Eu conto as coisas pra poucas pessoas, quando na verdade eu queria contar pra todo mundo. Mas, nas entrelinhas do que eu digo, todo mundo entende. Todo mundo sabe. As pessoas nos enxergam como querem, mas no fundo elas sabem como a gente é. A gente sabe como é, mas vive querendo ser diferente. Vive querendo mostrar pro mundo que a gente não é assim, que a gente é melhor, que a gente consegue. E conseguimos, mas não precisamos mostrar pro mundo. Só precisamos viver. Aceitar o medo de que dê errado e o medo de que dê certo e transformá-lo em coragem pra tentar. Arriscar pra ver no que vai dar. Pode não dar em nada. Mas também pode acontecer aquilo que eu sempre quis. Hoje tô feliz, mas tô sentindo uma dorzinha no peito. Estou gritando por dentro, mas mostro só o meu silêncio. Porque, se alguém escutasse, ia me mandar calar a boca.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

O amor que a vida traz

Você gostaria de ter um amor que fosse estável, divertido e fácil. O objeto desse amor nem precisaria ser muito bonito, nem rico. Uma pessoa bacana, que te adorasse e fosse parceira já estaria mais do que bom. Você quer um amor assim. É pedir muito? Ora, você está sendo até modesto.

O problema é que todos imaginam um amor a seu modo, um amor cheio de pré-requisitos. Ao analisar o currículo do candidato, alguns itens de fábrica não podem faltar. O seu amor tem que gostar um pouco de cinema, nem que seja para assistir em casa. E seria bom que gostasse dos seus amigos. E precisa ter um objetivo na vida. Bom humor, sim, bom humor não pode faltar. Não é querer demais, é? Ninguém está pedindo um piloto de Fórmula 1 ou uma capa da Playboy. Basta um amor desses fabricados em série, não pode ser tão impossível.

Aí a vida bate à sua porta e entrega um amor que não tem nada a ver com o que você queria. Será que se enganou de endereço? Não. Está tudo certinho, confira o protocolo. Esse é o amor que lhe cabe. É seu. Se não gostar, pode colocar no lixo, pode passar adiante, faça o que quiser. A entrega está feita, assine aqui, adeus.

E agora está você aí, com esse amor que não estava nos planos. Um amor que não é a sua cara, que não lembra em nada um amor idealizado. E, por isso mesmo, um amor que deixa você em pânico e em êxtase. Tudo diferente do que você um dia supôs, um amor que te perturba e te exige, que não aceita as regras que você estipulou. Um amor que a cada manhã faz você pensar que de hoje não passa, mas a noite chega e esse amor perdura, um amor movido por discussões que você não esperava enfrentar e por beijos os quais nem imaginava ter tanto fôlego. Um amor errado como aqueles que dizem que devemos aproveitar enquanto não encontramos o certo, e o certo era aquele outro que você desconfia que não lhe pertence. Aquele amor em formato de coração, amor com licor, amor de caixinha, não apareceu. Olhe pra você vivendo esse amor a granel, esse amor escarcéu, não era bem isso que você desejava, mas é o amor que lhe foi destinado, o amor que começou por telefone, o amor que começou pela internet, que esbarrou em você no elevador, o amor que era pra não vingar e virou compromisso, olha você tendo que explicar o que não se explica, você nunca havia se dado conta de que amor não se pede, não se especifica. não se experimenta em loja, como quem diz: ah, este serviu direitinho!

Aquele amor corretinho por você tão sonhado vai parar na porta de alguém que despreza amores corretos, repare em como a vida é astuciosa. Assim são as entregas de amor, todas como se viessem num caminhão da sorte, uma promoção de domingo, um prêmio buzinando lá fora, mesmo você nunca tendo apostado. Aquele amor que você encomendou não veio, parabéns! Agradeça e aproveite o que lhe foi entregue por sorteio.

Martha Medeiros

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Mudou

Engraçado como as coisas mudam de uma hora pra outra. Depois da meia-noite, tudo mudou. Tudo que eu sentia se modificou e tudo que eu não entendia se explicou. Dez minutos atrás eu estava desabafando com um amigo, dizendo tudo que me preocupava, falando dos meus medos, das minhas tristezas e dúvidas. E agora parece que tudo isso perdeu a importância. Os dez minutos atrás perderam o sentido. A festa começou e eu olhei pra novas pessoas. Eu ouvi músicas diferentes e não mais aquelas que costumavam ser trilha sonora para nossas impossibilidades. Eu não lembrei que você não estava lá. Eu não quis que estivesse. Na verdade, eu acho que foi bom desabafar. Botei pra fora, joguei na beira do asfalto toda a dor que eu sentia. Me esvaziei de você. E aí, comecei a me encher de coisas novas. De novos sons e melodias, de novas caras e sorrisos. Novas sensações. Velhas vontades saciadas de novas formas. Engraçado como as coisas mudam de uma hora pra outra. Até ontem eu recebia mensagens de arrependimento e chorava. Hoje eu recebo mensagens que me fazem sorrir. Por mais que eu saiba que não vai ser fácil, é bom saber que eu não estou sozinha e que eu não sou a única que sente.

Tu apareceu na hora certa.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Paracetamol

Quatro noites dormindo com a janela do quarto aberta. O calor era intenso e eu precisava desse pouquinho de ar noturno pra não morrer sufocada e afogada no meu suor. A cortina se balançava com a pequena quantidade de vento que havia lá fora. Conforme ia me aprofundando mais no sono, me livrava do lençol que até então estava em cima de mim. Mas não deixo que ele caia no chão. Mantenho o lençol enroscado em minhas pernas e braços. Preciso de algo pra abraçar, pra pegar, pra sentir, mesmo quando está tão quente que não suporto nem meus próprios pelos sobre a pele. Quatro noites dormindo com a janela aberta somados ao banho de chuva que tomei no domingo. Maior banho de chuva da minha vida. Daqueles que tu pode dizer, sem dúvidas, que lavou a alma. Mas eu lavei muito mais o corpo. Meus cabelos pingavam e minha blusa parecia ser uma extensão da minha pele de tão grudada em mim. Muita água. Muito vento. Muito sereno. Gripei. Acordei com dor de garganta, espirros, tosse e uma voz de travesti. Mentira, acho que travestis tem uma voz bem mais bonita que essa. Algumas palavras custam a sair e a risada sai toda falhada. Meus companheiros hoje foram um rolo de papel higiênico e um Afrin na cabeceira da cama. Dor no corpo, vontade de dormir pra sempre, esquecer que existe vida fora da minha casa, do meu quarto, do meu corpo. Às vezes parece que não existe vida nem dentro do meu corpo. Mas aí vem uma chuva e me lembra que existe, sim. Vem o sol queimando minha pele e me lembra que eu ainda sou capaz de transpirar, de sentir calor ou qualquer outra coisa que seja. Vem uma gripe em pleno verão pra me lembrar que eu tô viva.
Essa noite demorei pra dormir. A janela estava fechada, o calor me fazia querer arrancar cada fio de cabelo que me esquentava mais ainda e os pensamentos não queriam deixar minha cabeça descansar. Pensei em tanta coisa, em tanta gente, em tantos dias que já se foram, em tantos momentos que nunca mais vão se repetir. Às vezes tenho vontade de gritar e pedir com toda a minha força que eu quero tudo de volta. Que eu quero tudo outra vez. Do jeito que era. Do jeito que eu pensei que nunca seria. Nunca foi. Talvez só na minha cabeça. E, sabe, minha cabeça tá cansada. De pensar, de imaginar, de sonhar com o impossível. E já são duas da manhã e ela não consegue se desligar do mundo. Levanto, tomo um paracetamol, uma água com açúcar, qualquer coisa que me faça dormir. Coloco mais Afrin no nariz pra ver se ele para de escorrer. Vou até o banheiro e volto pra cama. Antes de deitar, eu fico sentada, pensando em tudo mais uma vez. Pela última vez. Porque depois vai ser só eu, meu travesseiro e os sonhos do sono, aqueles que não tem pretensão nenhuma de acontecer. Mas como eu queria que alguns acontecessem. Como eu queria que fosse assim tão fácil. Fechar os olhos e só ver tudo acontecendo naturalmente. Sem precisar fazer força nenhuma, sem sentir dor, sem precisar carregar papel higiênico pra limpar o nariz. Nunca fiquei gripada num sonho. Nunca senti calor nos sonhos. Queria dormir pra sempre. Sonhar pra sempre. Parar de pensar. Parar de espirrar. Mas, felizmente, isso não é possível. Tenho que continuar aqui, tentando dormir com esse calor, com o lençol enroscado nas minhas pernas e o travesseiro atravessado de uma forma que eu quase posso abraçá-lo. Porque eu quase consigo. Abraçar e dormir. Eu quase consigo. Parar de pensar e parar de querer tanta coisa em tão pouco tempo. Eu quase consigo. E durmo. Mas não pra sempre. Durmo pra acordar amanhã novamente e ver que o sol ainda está lá fora e minha gripe ainda está aqui dentro e minha voz ainda não voltou ao normal. Mas sempre tem um amigo pra dizer que me ama mais do que a minha voz e outra amiga pra rir da minha situação e outra pra dizer bem feito, quem mandou dormir com a janela aberta? E sempre tem minha mãe pra concordar com essa amiga, mas depois pedir se eu quero tomar mais um pouco de xarope pra parar a tosse. Sempre tem mais um dia pra viver, mesmo que a gente não saiba se vai mesmo ter mais um dia depois desse. Então eu durmo, acordo, durmo, acordo. E sonho. E tomo banho de chuva. E me queimo no sol. E dou risada de tudo e de mim mesma. E falo, mesmo com a minha voz de travesti. E gasto mais um rolo de papel higiênico. E vivo. Porque a vida é muito, muito complicada. Mas sempre vai ter alguns amigos pra te fazer bem e um paracetamol pra te fazer dormir. Mas não pra sempre.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Vinte e oito

Eu não sei com quantas pessoas você fala enquanto fala comigo. O mundo virtual pode ser muito bom, mas tem esse problema. Você nunca sabe quem realmente fala a verdade e quem fala a mesma coisa pra todo mundo e acaba enganando todo mundo. Inclusive você. Mas aí, tem aquelas pessoas que você simplesmente não se importa. Não quer saber com quantas pessoas ela está desabafando além de você, pra quantos outros ela disse eu te amo um segundo depois (ou antes) de ter dito pra você. É aquele típico caso: fala com todo mundo, mas por favor, fala comigo também. Me conta como foi seu dia. Me faz rir. Desabafa, fala o que te aflige, o que te dói. Fala pra outras vinte e sete pessoas, mas fala pra mim também.
E, olha só, às vezes você aparece. Às vezes você lembra de mim e me dá oi. E eu derreto. Mas aí eu percebo que o constrangimento veio pra ficar. Que as nossas conversas nunca mais serão as mesmas. Que uma risada sempre vai estar acompanhada de tensão, que um xingamento que antes era de brincadeira, pode ser levado cada vez mais a sério. Então, por favor, não leva a sério. Eu queria que você tivesse me levado a sério naquele tempo que já passou, agora não precisa mais. Não precisa se preocupar se eu parecer triste, se parecer que eu ainda estou apaixonada por você. Não estou. Nem triste, nem apaixonada. Estou apenas aqui. Querendo te ouvir. Querendo que você me ouça mesmo quando eu não tenho nada pra dizer. Querendo que você não me esqueça, mesmo quando tiver outras vinte e sete pessoas pra conversar. Conversa com elas. Conta tudo pra elas. Mas não me deixa saber disso. Me faz pensar que eu sou a única online. No mundo virtual e no seu mundo.
Mas, olha, só pra frisar: não estou mais apaixonada. Só estou querendo ser aquilo que eu sempre fui. Uma no meio de vinte e sete. Porque, mesmo que pareça a coisa mais triste do mundo, eu nunca fui tão feliz.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Lado B

Todo mundo tem um lado B. Todo mundo faz coisas que não conta pra ninguém ou que gostaria que ninguém soubesse. Eu tenho um também. Descobri há pouco tempo. Mas ao contrário de todo mundo, ou da maioria das pessoas, eu não escondi. Deixei a mostra pra quem quisesse ver. E, pra quem não viu, eu contei. Me orgulho de ser assim. Um disco que pode ser escutado dos dois lados. Confesso que tem alguns riscos e algumas músicas podem falhar em determinados trechos, mas eu deixo você ouvir mesmo assim. Mesmo riscado. Porque todo mundo tem falhas e riscos. E todo mundo tem um lado B, por mais que diga que não. Já dizia a música, o que você faz quando ninguém te vê fazendo? E o que você queria fazer se ninguém pudesse te ver? Eu, várias coisas. Algumas eu nunca tinha feito e quando fiz, quis contar pra todo mundo. Alguns me olharam estranho. "A Fernanda fazendo isso?!" Sim, amigos, a Fernanda fazendo isso. Quem diria né? Quem diria que aquela menina normalzinha da escola não era assim tão normal, afinal de contas? Ainda bem que não sou normal. Ainda bem que surpreendo as pessoas. Assim são os discos. Alguns gostam, outros não. Alguns amam todas as faixas, outros preferem ouvir só algumas. E sempre tem aquelas que só ouvem o lado A. Que desprezam o que tem do outro lado. Mas eu prefiro o B. Prefiro os detalhes, o que torna cada um único e insubstituível no mundo. Se você tem vergonha de mostrar o seu, eu não posso fazer nada. Mas o meu está aí pra quem quiser ouvir. Pra quem quiser gostar. E se não gostar, por favor, não precisa fingir.


Pra terminar, só queria agradecer a todo mundo que sabe do meu lado B e continua aqui, ouvindo todas as canções comigo. Não preciso dizer que amo vocês, porque vocês sabem.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Vou me mudar pro quinto andar

Vou me jogar pela janela. Pena que não vai adiantar nada porque eu moro no primeiro andar. Mas pelo menos vou ralar um pouquinho os joelhos, machucar alguma parte do meu corpo e sentir outra dor que não a do coração. Porque olha, amigo, vou te dizer que tá doendo pra caramba. Já não sei mais que músicas ouvir porque eu contaminei todas com você. Por que a gente faz isso? Isso o quê?, vocês perguntam. Isso. Tudo isso. Gostar, amar, apaixonar, lembrar da pessoa com músicas bobas, escrever sobre a pessoa, chorar pela pessoa, querer se jogar pela janela. Eu devia era jogar você pela janela. Pena que eu moro no primeiro andar e não ia adiantar nada.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Nervo exposto

Eu costumava ser tímida. E talvez fosse mesmo. Talvez eu ainda seja. Mas percebi que tenho menos vergonha do que eu pensava ter. Não me importo de mostrar quem eu realmente sou. Deixo meus medos, minhas verdades, meu choro a mostra. Só não vê quem não quer. Quem prefere me enxergar de outro jeito. Sim, porque às vezes a gente faz isso. Vê as pessoas do jeito que a gente quer e não como elas são. Ou talvez elas sejam. Talvez eu seja tudo que pensam que eu sou, um pouco de cada uma das Fernandas que vocês veem. Eu realmente sou muitas. Algumas, inclusive, ainda não cheguei a conhecer. Outras já deixei pra trás, esqueci em algum lugar lá no fundo da minha alma. Também tem aquelas que eu nunca vou saber que existem, mas que os outros enxergam. Aquelas que eu conheço e não conto pra ninguém. Ou só pra algumas pessoas. E aquelas que eu gosto tanto que nunca vou deixar de ser. Ou que eu não consigo deixar de ser, mesmo sem gostar tanto assim. E, sabe, já riram muito do meu jeito de ser. Já debocharam dos meus gostos, dos meus amores, dos meus risos, dos meus choros. Já apontaram o dedo na minha cara, já me chamaram de coisas que eu não gosto de lembrar, já me rotularam o máximo que puderam. E tudo isso me fez crescer. Me senti sozinha por algum tempo, aquela fase da vida em que tu pensa que ninguém te entende, que tu não tem amigos e vai ficar sozinha pra sempre. Mas, como eu disse, é uma fase. Talvez algumas pessoas nunca tenham passado por ela e nem vão passar, mas eu passei e digo: dói. Mas o que seria de nós sem as dores? Muito menos humanos, com certeza. Passei pela solidão, pela quase depressão, pra entender que eu só preciso estar bem comigo mesma pra ser feliz. A gente morre sozinho, diz minha banda preferida. Mas a gente não precisa morrer sem a gente mesmo. A gente não precisa morrer sem ter tido a chance de se encontrar. De se mostrar. É por isso que eu me mostro. Que eu deixo o melhor e o pior de mim pra quem quiser ver. Tá tudo aí. Minhas lágrimas, meus sorrisos, meus medos, minhas mãos estranhas, meu cabelo que uma hora ou outra muda porque eu enjoo dele, minhas manias engraçadas, meus textos que sempre acabam fazendo sentido pra alguém. Não tenho vergonha das músicas que escuto, dos filmes que vejo, das fotos que olho no weheartit. Não tenho vergonha nem da minha celulite e das espinhas que vez ou outra aparecem na cara. Eu sou assim. Um nervo exposto. Fofa pra alguns e até safada pra outros. Romântica e cheia de vontade de provar tudo que a vida me oferece. Perdi todos os preconceitos que já tive um dia. Até mesmo aqueles que eu tinha contra mim mesma. E sigo me conhecendo mais a cada dia.
E como diria minha autora preferida, Martha Medeiros, "arranco minha própria pele para ver o que há embaixo / embaixo não há nada/ estou toda pra fora".

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Loucos e Santos

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.
Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero resposta, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco.
Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.
Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice!
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou.
Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

O que é isso que sinto?

Cheguei a pensar que fosse amor, e talvez seja, quem há de saber? Muitos já tentaram explicar o amor, até mesmo eu que nunca cheguei a viver. Mas a realidade é que não há teoria capaz de definí-lo. Por isso, sigo sem entender.

O que é isso que sinto?
Seria tesão, vontade, desejo? Mas como posso sentir tudo isso por algo que antes provocava em mim o maior dos preconceitos? Não há filósofo, poeta ou psicanalista capaz de entender e explicar como um sentimento pode surgir no meio do medo. No meio do nojo. No meio do nada. E se transformar em tudo.

O que é isso que sinto?
Amizade? Mas então por que quero tirar a sua roupa, deitar do seu lado? Será que estou ficando louca? Vejo você por todos os lados.

O que é isso que sinto?
Alguém ousaria me explicar? Ou vou ficar para sempre sentindo o desconhecido, querendo o que não é permitido, te amando muito mais que um amigo?

O que é isso que sinto?
Se já não importa gênero, nem número. Se já se passaram meses e eu não mudo. Se te quero aqui e você não vem, mas eu me iludo.

domingo, 15 de janeiro de 2012

...

Cada coisa ao seu tempo, foi o que ouvi dizer.
O que foi que eu perdi quando eu me pus a crescer?
Quando dei por mim a vida levava por trilhas desconhecidas,
acelerando a cada dia.
Como eu peço pra descer?

Scracho

sábado, 14 de janeiro de 2012

Mania estranha

Eu costumo enxergar as pessoas do jeito que eu quero. Vejo nelas somente aquilo que me agrada e esqueço do resto. Eu costumo ver o lado bom de quem não tem nada a oferecer, é o que diria um trecho da música daquela banda que eu gosto. E é por isso que eu me apaixono pelas pessoas ou que alguém simplesmente se torna especial pra mim. É por isso que eu tenho vontade de abraçar algumas delas a todo momento. E aí, sabe o que eu faço? Eu escrevo. Eu escrevo sobre esse meu jeito estranho de gostar de quase todo mundo, eu escrevo sobre quase todo mundo. E aí, sabe o que quase todo mundo faz? Se assusta, foge, corre pra bem longe de mim. Porque realmente deve ser assustador uma menina que te conhece há tão pouco tempo e já tá escrevendo sobre você. Uma menina que nem conversa muito ou nunca conversou com você já fez um texto falando sobre coisas que ela imagina que você goste. Só que aí você lê e vê que é daquilo mesmo que você gosta. E se pergunta como ela sabe. Quer saber? Nem eu sei. Eu só observo. Eu falo pouco, mas observo muito. Eu vejo os pequenos detalhes de cada um e é por isso que tantas pessoas me encantam. A banda preferida daquela menina começa a tocar na mtv e eu lembro dela. Como o doce preferido daquele menino e lembro dele. Ouço músicas daquele verão e lembro de pessoas especiais que estiveram nele. Até esqueço das partes ruins daquela época do ano. Eu costumo ver o lado bom de qualquer coisa que não tenha nada a oferecer.

não sei

eu queria tanto saber o que falar
pra fazer você ficar
pra fazer você me olhar.

eu queria tanto saber o que dizer
pra não te perder
pra você também querer.

mas o que eu posso fazer
se tudo que eu queria te dizer
eu já cansei de escrever.

sábado, 7 de janeiro de 2012

Um sonho complexo

Estava eu andando de carro, no banco do carona. Do meu lado, ao volante, um cara desconhecido, alto, moreno. Não sei de onde estávamos vindo, não sei pra onde íamos. Mas, de repente, paramos. Eu desci e levei comigo uma mala branca. O cara desconhecido ligou o carro outra vez e se foi. Eu fiquei ali, parada na estrada, sem saber onde eu estava. Então vi que eu estava na frente de um prédio enorme, parecia ser um hotel. Entrei. Mas não era hotel nenhum, era um hospital. E por dentro, não parecia nada com o prédio que eu havia visto lá fora. As paredes eram de madeira e aquele lugar se parecia muito mais com uma casa bem velha. Passei pela ala pediátrica, com balões coloridos desenhados na parede, bebês chorando e suas mães tentando acalmá-los. E então cheguei num quarto que estava com a porta aberta. Entrei. Lá dentro estava minha vó deitada na cama, ligada a alguns aparelhos. Em volta dela, minha mãe, uma amiga que eu amo muito e mais algumas pessoas que já nem lembro. Perguntei pra minha mãe o que tinha acontecido e ela disse que não era nada de grave, que logo minha vó iria pra casa. Nesse momento, vi meu vô ali também. Meu vô, que faleceu há dois anos. Eu sabia que ninguém mais percebia sua presença, mas eu podia vê-lo nitidamente. Me assustei. Gritei. Mãe, vem aqui que eu preciso te falar uma coisa. Alguém gritou comigo. Fala baixo, menina, você está num hospital. Saí correndo. E quando cheguei do lado de fora do hospital, prédio, casa velha ou seja lá o que fosse aquilo, já não era mais nada disso. Eu estava na frente da minha casa e minha mãe estava do meu lado. Perguntei onde estava aquela amiga que eu amo muito, que estava ali a pouco tempo atrás. Minha mãe respondeu que ela tinha ido embora. Quis que ela voltasse.

Acordei.

Era uma vez

Filmes sempre me deixam com vontade de escrever. Mas alguns me deixam com vontade de mudar o mundo.

Acabei de ver um drama. Um drama brasileiro. Não esperava muito do filme, mas ele foi me prendendo de uma forma que eu fui ficando cada vez mais tensa pra saber o fim. E na cena final, desabei. Chorei feito uma criança. Hoje eu lavei a alma vendo o filme ERA UMA VEZ. Um menino pobre, da favela, que se apaixona por uma menina rica e ela se apaixona por ele também. Pode parecer uma história comum, mais do mesmo, mas não é. É uma história que, provavelmente, acontece muito no nosso país e a gente nem fica sabendo. É tanta morte, tanta violência, tanta guerra onde deveria haver paz que a gente já se acostumou e nem presta mais atenção se uma notícia de sequestro ou tiroteio na favela aparece na televisão. Por que prestar atenção né? Por que se importar com isso se nao vai mudar nunca? É, pensando assim não vai mudar mesmo. No final do filme, o ator Thiago Martins, que faz o protagonista e é morador de uma favela, diz que a mudança é difícil, mas que se a gente olhasse com mais carinho para as pessoas, as coisas seriam bem melhores. É isso. A gente não olha para as pessoas. A gente conhece alguém e julga pela aparência, sem se preocupar com quem ela é de verdade. Todo mundo tem sonhos, todo mundo espera alguma coisa desse mundo, dessa vida. Alguns alcançam o que querem, outros não. Alguns são felizes para sempre, outros morrem injustamente. E talvez isso nunca mude. Mas você já parou pra pensar que as pessoas que aparecem naquelas notícias horríveis da televisão que você nem presta atenção, são pessoas assim como você? Você já parou pra pensar que você podia estar no lugar delas? Você, que sonha com o grande amor da sua vida, pode já ter encontrado e perdido porque não olhou pra ele. Porque não quis saber. Porque julgou pela roupa, pela cor. Da próxima vez, tenta olhar nos olhos das pessoas. Tenta enxergar a alma delas, por mais que isso pareça impossível. Faça com que o seu 'era uma vez' termine bem. Escreva sua história sem esquecer que todo mundo tem o direito de escrever a sua também.

Eu chorei hoje. Chorei tanto que fiquei com o rosto inchado e vermelho. Lavei a alma, de verdade. E tô aqui com um aperto no peito porque eu sei que eu não posso mudar nada sozinha. Que o simples fato de eu querer a paz no meu país e no mundo, não vai fazer com que ela exista realmente. Mas hoje, esse filme mudou alguma coisa em mim. Aquela frase do final me tocou lá no fundo. Vou olhar para as pessoas com mais carinho daqui pra frente. Com mais amor. Olha você também. Não dói nada. Só faz bem.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Lágrimas de show

Nunca chorei num show. Sou a pessoa mais chorona da face da Terra, mas acabo de perceber que nunca chorei num show. Nem quando vi minha banda preferida pela primeira vez, quando abracei eles, quando fui no show internacional que eu tanto queria, nas músicas que me tocam lá no fundo, nunquinha. Aí hoje, desenterrei meu DVD da Avril Lavigne e quando ela começou a cantar 'I'm with you' me veio um pensamento na mente. Se um dia eu ouvir essa música ao vivo, as lágrimas vão rolar. Poucas canções falam aquilo que eu penso lá no fundo da minha alma. Poucas dizem aquilo que eu não sei falar. Mas essa é uma delas. Ainda não achei um amor, alguém pra chamar de meu. Mas eu sinto que existe alguém pra mim em algum canto do mundo e um dia a gente vai se encontrar. Mas, enquanto a gente não se encontra, eu estou com ele. Eu estou com você, onde quer que esteja. I don't know who you are, but I'm with you. O dia que eu ouvir essa música sendo tocada ali, na minha frente, acho que estreio minhas lágrimas de show.