sábado, 28 de julho de 2012

Um dia vamos rir de tudo isso,

é o que nos dizem. Um dia vou lembrar de quando eu ouvia as pessoas falando sobre coisas ilegais e fingia não me interessar/não gostar, quando na verdade eu queria fazer parte daquilo por alguns instantes. Um dia eu vou lembrar das festas em que eu subi no palco, dancei e vi algumas pessoas me olhando e perguntando umas às outras o que tinha acontecido comigo. Um dia eu vou lembrar de ter rido dessas pessoas. E vou rir mais ainda. Um dia eu vou lembrar das cervejas e das quatro tequilas bebidas de graça após uma comanda encontrada no chão. E da volta pra casa, pelas ruas frias e vazias da cidade, apenas sob o som dos nossos risos. Um dia eu vou lembrar do medo que eu senti em diversos momentos. Medo das pessoas, de olhares estranhos em minha direção, medo até mesmo de morrer ou de ver alguém morrendo na minha frente. Um dia eu vou lembrar dos cigarros que eu tentei fumar. Não sei tragar. O que tenho aqui dentro já é intragável o bastante. Um dia vou lembrar das vezes em que tirei a roupa por impulso, em que me deixei levar por sensações momentâneas e vou sentir nojo. Nao posso consertar, mas posso, sim, me arrepender. Só não se arrepende quem não está vivo. Quem só existe. Um dia vou lembrar das músicas que me faziam levantar da cadeira mesmo quando meus pés já doíam, mesmo quando o que doía mais era meu coração. Um dia vou lembrar das mesas arremessadas pela sacada, das meias deixadas em galhos de árvores, dos amigos sentados na calçada. Um dia vou lembrar das meninas. Dos banheiros. Dos bilhetes. Da vontade estranha que surgia em momentos inoportunos. Um dia vou lembrar do colchão vazio ao lado da minha cama pois, quem devia estar nele, estava do meu lado. Um dia vou lembrar de todos os textos que escrevi, de todas as cartas que mandei. Será que ainda guarda? Um dia vou lembrar da minha vida bilateral, dos meus romances que não saíam do papel. Um dia vou lembrar da minha maquiagem borrada, às vezes pela alegria da festa, às vezes pelas lágrimas derramadas em cima da mesa do bar. Um dia vou lembrar do moletom que eu cheirei por alguns dias e devolvi sem usar. É, não usei. Um dia vou lembrar de tantos nãos que eu disse, de tantos sins que eu falei e vou querer trocá-los de lugar. Não vou poder. Foi como tinha que ser. Um dia vou lembrar de quando me disseram eu te amo no meio de uma festa e eu não quis ouvir. Eu não disse eu também. Um dia vou lembrar da água sendo jogada nos meus cabelos, da fumaça impedindo minha respiração. Um dia vou lembrar da fogueira e dos vaga-lumes que apareciam, desapareciam, apareciam e desapareciam. O vômito, a louça lavada de manhã, as flores colhidas no jardim, o medo de cair do balanço. O medo de cair. Um dia vou lembrar do pôr-do-sol visto no melhor lugar do mundo quando eu ainda não dava tanto valor assim à ele. Vou querer voltar pra lá e vou voltar. Pra lembrar de tudo isso. Pra buscar o que um dia pode faltar em mim. Um dia vou lembrar de quando pouco ou quase nada importava, além daquilo que eu sentia. Mesmo sem saber o que eu sentia. Madrugadas insones escrevendo palavras que não fazem sentido algum pra quem lê. Um dia eu vou lembrar que fazer sentido não tem graça nenhuma. E é preciso haver graça, pois um dia vamos rir de tudo isso. É o que dizem.

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