sexta-feira, 29 de junho de 2012

não é sobre você

já não associo as músicas a ninguém
não imagino que sou a protagonista do filme
não sonho antes de dormir
não escrevo sobre você

não me importo com os outros
não quero demonstrações públicas
só quero sentir algo único
mas não escrevo sobre você

escrevo sobre a dor
escrevo sobre o medo de cair
escrevo sobre não poder
não querer
não saber

as músicas agora são só minhas
os filmes apenas me fazem sorrir
eu sonho só depois de dormir

e você está aqui
nas estrelinhas do que eu ainda não ouso escrever

quinta-feira, 7 de junho de 2012

O que restou do conto de fadas

Passado e presente se misturam num mesmo momento. Pessoas que pareciam ter ido embora aparecem e pessoas que eu não quero que fiquem parecem nunca partir. Não sei mais se eu quero ficar. Não sei mais se eu quero olhar ao redor e ver o que vejo. Escutar as coisas que dizem e as coisas que não dizem mas que ainda assim eu posso escutar. Eu ouço o silêncio. Eu vejo o que ninguém vê. Eu sinto o que parece impossível de ser sentido. De ter sentido. As palavras são mal interpretadas e os sorrisos pré-julgados. Nem sempre estamos felizes. Nem sempre queremos estar onde estamos. Andamos por ruas frias e escuras, ao lado de pessoas que nem sabem o quanto são importantes. Seguramos copos cheios de líquidos ruins e fortes que acreditamos ser a solução momentânea para nossos problemas. Rimos, dançamos e acabamos sentados com a cabeça escorada na mesa desejando nada além do nosso travesseiro, das cobertas quentinhas que nos protegem do frio e do medo. Tudo pode acabar a qualquer instante e não sabemos o que vai começar em seguida. Não sabemos como as coisas vão ser quando mudarem. Porque sempre muda. Sempre há novas pessoas, novas músicas, novos olhares se misturando aos antigos e já conhecidos hábitos. Passado e presente se misturam numa mesma melodia. Sentimentos são jogados no meio da pista de dança e pisoteados por milhares de sapatos caros. Centímetros a mais pra quem nem quer ser alta. Cento e sessenta centímetros bastam para enxergar o mundo ao redor. Pra ver o quanto somos felizes quando não nos importamos com nada. Ou quando fingimos que não importa. Porque sempre importa. Não somos obrigados a sair. Não somos obrigados a ver o que não gostamos, a conviver com o que nos incomoda. Mas não queremos ficar em casa enquanto a vida acontece. Não queremos perder a chance de experimentar o que nos é oferecido e de guardar na bolsa o que nos repugna. Mantemos por perto aquilo que tememos. Provamos o que nos faz mal. Desejamos perder os sentidos pra ver se a dor diminui, pra ver se a insegurança dá uma trégua. Vemos o mundo girar ao nosso redor, como se as paredes fossem cair a qualquer momento. Mas somos nós que caímos. Diante da vida e do que nos aflige. Acabamos num táxi, com o rádio ligado numa estação popular que toca uma música que não gostamos. Lembrando de coisas que não gostamos. Procurando na bolsa o que sobrou de nós mesmos. Chegamos em casa quase sem voz, com rímel até a bochecha. É bom tirar os sapatos, botar os pés no chão outra vez e ter de volta apenas os centímetros necessários pra viver. Deitar na cama, sentir o quarto girando e ouvir as batidas de música que ainda moram nos nossos ouvidos. Fechar os olhos e sentir que tudo acaba aqui. Passado e presente se misturam e acabam na manhã seguinte quando, então, o futuro chega. E ele chega com o sol iluminando mais um dia frio. Alguns trocados ainda restam da noite anterior. Os sapatos estão jogados no chão e os cabelos pedem um pouco de água e xampu pra levar embora o cheiro de cigarro. O cheiro daquela parte de nós que às vezes aparece pra mostrar que algo está errado. Um banho quente e tudo parece melhorar. Mais uma daquelas soluções momentâneas para os problemas que insistimos em adiar. É difícil encará-los quando há tanto pra viver, tantas músicas pra cantar, tantas ruas frias pra andar ao lado daqueles que realmente importam. No fim de tudo, quando só resta o silêncio, nada mais importa além das pessoas. Não é preciso maquiagem, nem roupas da moda, bebidas geladas, cigarros ou salto alto. Não é preciso músicas remixadas, personagens de contos de fadas ou romances instantâneos. No fim de tudo, quando passado e presente se tornam um só, o que basta é quem continua aqui apesar de tudo. É quem te olha e não precisa falar nada para que você entenda que não está sozinho. Nenhuma droga é capaz de provocar o que um olhar provoca. Nada conforta mais do que saber que existe alguém por você. Existe e sempre vai existir alguém, mesmo nos momentos mais escuros. Mesmo quando nada faz sentido. Assim como esse texto.