domingo, 27 de novembro de 2011

Cemitério das boas intenções

Trancaram-nos aqui. Aqui onde vivemos a respirar o mesmo ar. Aqui onde dividimos o que roubamos da nossa Terra-mãe. Por que todos aqui? E por que tantos, aqui? Aqui onde amamos nossos semelhantes com a mesma intensidade que odiamos os que são diferentes. Aqui a gente briga pelo que não é nosso. Aqui, onde a gente acumula o que não nos pertence para que os que nada possuem permaneçam nada possuindo. E para sair daqui? Um portão, e ele não abre para os dois lados. Saibamos, então, antes que seja tarde demais, que o bisturi vai ler em nossa pele a perfeita transcrição do que está entalhado em nossa alma. E assim veremos: a gente morre sem dinheiro. A gente morre sem amor. A gente morre sem amigos. A gente morre sem sucesso, sem fracasso, sem passado, sem futuro. A gente morre sem emprego, sem carro, sem medalhas no peito. O que está prostrado na maca é o elo perdido entre o Humano e o Animal. A gente morre sem rosto. A gente morre sem corpo. A gente morre sem nada. A gente morre para que, naquele hesitar entre o último pulso e o fechar de nossas pálpebras, possamos ter um único segundo de paz. Trancaram-nos aqui. E daqui não sairemos juntos. A gente morre sozinho. E hoje, no auge do funeral dos nossos sonhos, depositamos aqui mesmo as nossas boas intenções. Trancaram-nos aqui. E daqui não sairemos vivos.

Fresno

sábado, 26 de novembro de 2011

simples

E então são os simples detalhes que fazem algo valer a pena. Não precisa ser sempre perfeito, não precisa ser sempre maravilhoso e inesquecível. Às vezes pode ser somente simples e ainda assim você lembrar pra sempre. Aqueles momentos em que tu finalmente se sente parte de algo, em que tu realmente acredita que existem pessoas que querem que tu esteja ali, do lado delas. É bom saber que gostam de ti, mas é melhor ainda quando ninguém precisa dizer que gosta de ti porque tu vê. Tu percebe naquele abraço apertado e cheio de sentimento bom, naquelas risadas bobas e verdadeiras, naquela conversa sincera no final da festa. Festa essa que nem precisou ser tão boa, pra ser boa. Não tocaram as melhores músicas, mas eu vi as melhores pessoas pra mim e isso é o que importa. Um sorriso, um abraço, uma palavra amiga. É pra isso que eu tô dando valor ultimamente. Na verdade, sempre foi, mas agora é mais. Não preciso de falsas promessas, de sentimentos nem tão reais assim jogados ao vento só pra dizer que existem. Não sei se existem. Mas a amizade é real. E hoje eu posso dizer que sei quem é de verdade e quem é de mentira. Quem gosta de me ter por perto e quem queria que eu fosse pra bem longe. E pra esses últimos eu digo: enquanto aqueles que me querem por perto ainda estiverem aqui, é aqui que eu vou ficar. Porque são eles que fazem meus dias valerem a pena, são eles que me fazem ver beleza nos momentos mais simples, são eles que fazem eu gostar muito mais de mim e da vida que levo. E é só isso que se leva da vida.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Não encontrei um título para esse texto. Foda-se.

Não sei dizer se acabou ou se vai continuar. Não consigo entender se o que você me diz agora é verdade ou se só devo confiar no que me dirá amanhã. Você muda seu discurso quando bem entende e eu não entendo mais nada. Talvez aí é que esteja a graça. Não entender. Não querer saber, mas ainda assim querer. Te querer. Por mais que você diga que não ou mais ainda porque você me diz que não. A vida é complicada, a gente insiste em falar. Mas a verdade é que nós é que complicamos, nós é que criamos ilusões em cima de qualquer sorriso, em cima de qualquer palavra. Nós é que queremos as coisas cedo demais ou só quando não podemos mais ter. Nós é que somos difíceis e às vezes até impossíveis de entender. Se nem nós mesmos conseguimos, como queremos que os outros nos entendam? Eu não quero. Não quero que você me entenda. Não preciso nem que você diga que me quer. Eu ainda não sei se tudo acabou ou se as coisas vão continuar do mesmo jeito. Ainda não compreendi quando você fala a verdade e quando você só fala por falar. A única coisa que eu sei é que os medos que eu tinha ficaram pra trás. A insegurança que eu sentia ainda existe, mas vem diminuindo a cada dia. Me sinto melhor a cada minuto que passa. Meus olhos já não estão mais tão nublados e eu já consigo me enxergar outra vez, mesmo não sendo mais a mesma de alguns meses atrás. Mudei. Em alguns aspectos, pra pior. Mas em outros sei que melhorei e você tem muito a ver com isso. De um jeito ou de outro, eu cresci sentindo o que você me fez sentir. Eu vi que posso ser muito mais do que achei que podia. Eu vi que não preciso falar o tempo todo e que às vezes as pessoas entendem meu silêncio. Você entende. Você lê meus pensamentos e eu me assusto. Me sinto nua, como se minha alma estivesse a mostra, como se tudo que eu sinto estivesse tão na cara que qualquer desconhecido pode entender. Mas você me conhece. Você, em pouco tempo, me conhece melhor do que muita gente que conheci há anos. E isso me encanta também. Por isso, se vai acabar ou não, tanto faz. Foda-se. Eu já tenho você na minha vida. E sei que você não vai sair dela tão cedo. Aliás, se depender de mim, não vai sair nunca. Então, não importa mais o que vai acontecer. Nada mais importa. A dor já passou, as lágrimas já secaram, os medos estão cada vez menores. O que sobrou foram sorrisos, conversas animadas, beijos estalados na bochecha, copos de cerveja, eu e você. O resto? Já falei. Foda-se.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Time of your life

Another turning point
a fork stuck in the road
Time grabs you by the wrist
directs you where to go
So make the best of this test
and don't ask why
It's not a question
but a lesson learned in time

It's something unpredictable
but in the end it's right
I hope you had the time of your life

So take the photographs
and still frames in your mind
Hang it on a shelf
of good health and good time
Tattoos of memories
and dead skin on trial
For what it's worth
it was worth all the while

It's something unpredictable
but in the end it's right
I hope you had the time of your life.

Green Day

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Reencontro

Hoje tive um encontro com a antiga eu e me senti bem. Por mais que eu goste daquilo que me tornei e não tenha vergonha das coisas que quero agora, eu realmente sou aquilo que reencontrei hoje. Que revivi hoje. Por alguns minutos eu voltei a sentir o que nunca mais tinha sentido, a sorrir por motivos que não me assustam, a querer coisas que não me deixam confusa. Por alguns minutos eu voltei a ser o que eu era, o que eu sempre fui. Se ainda sou, não sei. Talvez agora eu seja uma mistura daquilo que era e daquilo que me tornei. Ou talvez não seja nada disso. Mas o fato é que adorei rever a antiga eu. Adorei ver que essa parte de mim ainda existe, apesar de tudo. E eu sou capaz de jurar que ouvi ela dizer um 'volto logo'. E sei que mais cedo ou mais tarde ela volta pra ficar.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

O amor

O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente
Cala: parece esquecer

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pra saber que a estão a amar!
Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar.

Fernando Pessoa

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Sobre pessoas, palavras e lágrimas

As pessoas não sabem o quanto podem ser importantes na vida das outras. Por mais que na maioria das vezes a minha teimosia faça com que eu não siga os conselhos que me dão, eu nunca, nunca mesmo esqueço aquilo que me dizem. Já me falaram coisas boas, lindas, que me fizeram feliz por um momento ou por dias seguidos. Já me falaram coisas horríveis, que me machucaram e que eu não gosto de lembrar, mas não tem como esquecer. O fato é que as palavras, sejam elas boas ou ruins, me tocam.
Sou movida pelas palavras, por mais que às vezes eu siga a direção contrária daquilo que me dizem. Sou feita de palavras, por mais calada que eu possa parecer. Eu penso muito. Eu falo pouco, mas ouço muito. E guardo pra sempre tudo aquilo que ouço. Tudo aquilo que leio também.
Já me chamaram de estúpida, já disseram que eu sou a melhor pessoa do mundo. Já riram e fizeram cara feia para as escolhas que fiz na vida, já disseram pra eu nunca desistir e sempre enfrentar os meus medos. Já disseram que me amavam, já disseram que não me amavam. Já me contaram histórias que me fizeram pensar o quanto minhas preocupações são bobas e o quanto meu choro é sem fundamento. Mas eu continuo chorando, porque essa é a minha forma de encarar aquilo que tenho medo, essa é a maneira que encontro pra pedir perdão pelos conselhos que não sigo, pelas pessoas que acabo magoando.
Eu choro porque as lágrimas me definem, fazem parte daquilo que sou. Elas escorrem em momentos bons, ruins, por emoção, por raiva ou tristeza. E às vezes choro porque as pessoas não sabem o quanto podem ser importantes na vida das outras e porque eu não sei como mostrar ou dizer isso a elas. Por isso escrevo. Por isso já estou no meu terceiro blog e tenho vários cadernos lotados de palavras espalhados por aí. Eu escrevo porque não sei lidar com as pessoas, mas amo cada uma, ou a maioria delas. Escrevo pra tentar compensar a minha falta de talento pra falar. Pra tentar traduzir aquilo que sinto, aquilo que as pessoas me fazem sentir.
E se você, seja quem for, já me disse alguma coisa, qualquer coisa, sem ter medo de mudar a minha vida com suas palavras, saiba que eu nunca vou esquecer. Porque eu tenho muitos defeitos e um deles é não esquecer de nada. Ou talvez não seja um defeito. De qualquer forma, não tenha medo. De falar, de mudar a minha vida, de me dar conselhos que talvez eu não siga, de ser sincero sempre. Não fuja se virar assunto para um texto meu, se eu viajar totalmente numa frase qualquer que você falar. Não se assuste, porque eu sou assim.
Eu choro, sorrio e escrevo sobre aquilo que as pessoas costumam chamar de qualquer coisa. Mas qualquer coisa pra mim é importante. Porque, como já me disseram, eu sou intensa. E com isso eu concordo profundamente.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Preciso dizer

E aí você chega, como quem não quer nada e me toca bem lá no fundo. Me faz sentir o que eu pensei que não fosse possível. E, no segundo seguinte, você me deixa falando sozinha enquanto eu fico aqui com um vazio enorme no peito, esperando que você volte. Você volta, você sempre volta. Mas cada vez você reaparece com menos intensidade. Com menos vontade. Ao contrário de mim, que cada vez te quero mais, cada vez sinto menos medo de tudo isso, menos vergonha de admitir que quero tudo isso. Eu queria você. E queria que as coisas voltassem a ser como eram a alguns dias atrás. Era tão divertido, era tão gostoso passar o tempo ao seu lado. Agora você tornou as coisas um pouco difíceis. Ou talvez eu tenha tornado. Não sei. O fato é que não somos mais os mesmos. Não queremos mais as mesmas coisas. Aquela conversa cheia de vontade de deixar de ser só uma conversa no final daquela festa nunca mais vai voltar. Sua mão pegando a minha com tanto sentimento escondido não vai voltar também. Os sentimentos não estão mais escondidos. O amor, ou seja lá o que for tudo isso, está aí pra quem quiser ver. Só que você não quer mais ver. O medo que eu deixei de sentir passou pra você.
E, já que aqui o medo quase não existe mais, preciso dizer que eu tenho certeza que tu foi a melhor coisa que me aconteceu nos últimos meses, porque me fez enxergar as várias pessoas que existem dentro de mim e não ter vergonha de nenhuma delas. Preciso dizer que tu me encanta porque eu não preciso de motivos pra gostar de ti, eu gosto e pronto. Não tem explicação. Preciso dizer que eu me sinto muito mais feliz quando falo contigo, começo a sorrir como uma boba quando vejo você chegando, as palavras se perdem quando você olha pra mim. Muitos textos aqui já falaram de você e às vezes não temos noção do que provocamos nas pessoas com algumas palavras. Só percebemos isso quando alguém escreve algo pra nós. E você escreveu. Eu li. E chorei. Chorei as lágrimas mais felizes do mundo. Elas escorreram pelo meu rosto como se limpassem todas as impurezas, externas e internas.
E eu queria dizer que fiquei muito mais feliz depois de ter voltado atrás. A única coisa que me deixa um pouco triste é saber que agora é você que está mudando de opinião. E não concordo quando você diz que agora nada mais importa. Importa, sim. O que eu sinto importa. O que você sente importa. Você importa muito pra mim. De alguma forma que eu ainda não entendi, eu gosto muito, muito de ti. Por favor, nao tenha medo disso. E não esquece. Não me perde.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

mordida

eu me mordo de ciúmes
de você, dela, dele
de quem nem imagina
de quem nem percebe

tenho ciúmes
e dói
me consome
quase mata

eu me mordo de ciúmes
posso morder você também?