domingo, 27 de novembro de 2011

Cemitério das boas intenções

Trancaram-nos aqui. Aqui onde vivemos a respirar o mesmo ar. Aqui onde dividimos o que roubamos da nossa Terra-mãe. Por que todos aqui? E por que tantos, aqui? Aqui onde amamos nossos semelhantes com a mesma intensidade que odiamos os que são diferentes. Aqui a gente briga pelo que não é nosso. Aqui, onde a gente acumula o que não nos pertence para que os que nada possuem permaneçam nada possuindo. E para sair daqui? Um portão, e ele não abre para os dois lados. Saibamos, então, antes que seja tarde demais, que o bisturi vai ler em nossa pele a perfeita transcrição do que está entalhado em nossa alma. E assim veremos: a gente morre sem dinheiro. A gente morre sem amor. A gente morre sem amigos. A gente morre sem sucesso, sem fracasso, sem passado, sem futuro. A gente morre sem emprego, sem carro, sem medalhas no peito. O que está prostrado na maca é o elo perdido entre o Humano e o Animal. A gente morre sem rosto. A gente morre sem corpo. A gente morre sem nada. A gente morre para que, naquele hesitar entre o último pulso e o fechar de nossas pálpebras, possamos ter um único segundo de paz. Trancaram-nos aqui. E daqui não sairemos juntos. A gente morre sozinho. E hoje, no auge do funeral dos nossos sonhos, depositamos aqui mesmo as nossas boas intenções. Trancaram-nos aqui. E daqui não sairemos vivos.

Fresno

Um comentário: