terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Pés gelados

Tá calor, mas os meus pés estão congelando. Eu sou assim, fria. Nem o calor mais extremo faz as minhas extremidades esquentarem. Por isso eu queria você aqui e não aí. Por isso eu também queria que sua cidade começasse com C e não com B. Por isso eu queria que você soubesse onde eu moro e viesse correndo encostar os pés nos meus e as pernas nas minhas e seu corpo inteiro no meu corpo pra me esquentar. Porque ainda é verão, mas eu estou com frio. Ainda é verão, mas o horário de inverno já voltou e escurece tão cedo que eu tenho vontade de fechar as cortinas as 8 da noite e dormir até que o sol volte ou até que você me acorde. Mas eu não durmo tão cedo. Eu não durmo cedo porque ainda sou viciada em reality shows inúteis que não acrescentam nada na minha vida, mas que ainda me fazem rir e esquecer um pouco de pensar em todo o resto. Eu não durmo cedo porque gosto de falar com você, mesmo de longe. Gosto de ler as coisas engraçadas que você diz, gosto de morrer de rir as duas da manhã e quase acordar a família inteira. Minha mãe sempre pede porque eu dou tanta risada na frente do computador. Eu digo que não é nada, mãe. Porque se eu dissesse, ela não entenderia. Tem tanta coisa que ela não entenderia. Tanta coisa que eu também não entendo, então não posso te explicar, mãe. Quem sabe um dia. Quem sabe amanhã. Quem sabe nunca. Quem sabe os pais não precisem saber de tudo, afinal. É bom poder dividir as coisas com as pessoas que eu mais amo no mundo, mas acho que existem coisas que foram feitas pra ser só minhas e de mais ninguém. Ou minhas e suas. Porque tem gente que grita na frente de todo mundo aquilo que eu nem sei se realmente sou e tenho medo de ser e tenho vontade de calar a boca dessa gente que me faz rir, mas também me dá medo. Acho que o medo está tomando conta de mim ultimamente. Assim como o frio fora de época toma conta dos meus pés e eu não tenho ninguém pra me esquentar. Ninguém pra dizer que eu não preciso ter medo. Eu sei que eu não preciso. Eu sei que, no fundo, eu sou corajosa e não vou me abalar. Eu sei que é só eu deitar na cama e me cobrir com uma coberta bem quentinha que o frio vai passar. Mas sabe, não era bem uma coberta que eu queria.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

I found love

Hoje andei por alguns minutos num dos lugares onde mais me sinto bem no mundo. Hopeless place onde, por ironia do destino, we found love. Lá, eu encontrei o que procurei durante todos esses dezenove anos da minha vida. Encontrei amigos. Um totalmente diferente do outro, um pra cada momento e pra cada coisa que eu preciso falar. Tem amigo pra rir, pra chorar, pra se apaixonar e desapaixonar sem nunca deixar de gostar, pra ouvir música e lembrar, pra contar todos os segredos, pra contar só algumas coisas, pra viver os melhores dias da minha vida. Encontrei os melhores dias da minha vida. Encontrei o meu lugar fora de casa, fora do meu quarto, fora do meu mundinho particular que eu tanto gosto mas que tanto me faz mal às vezes. Encontrei, depois de tanta dúvida, o que eu quero ser um dia. Meus objetivos, meus sonhos. Vou atrás de todos, fechando os ouvidos pra quem diz que algum deles é impossível. Encontrei, principalmente, eu mesma. No meio de cadernos, livros, aulas chatas, trabalhos deixados pra última hora, risadas, cervejas tomadas numa segunda-feira, picolés que deixam a língua azul, meias penduradas em árvores, festas que se misturam, bochechas vermelhas e textos que não deveriam ser postados mas que vão continuar sendo postados porque é isso que eu sei fazer. Escrevo sem precisar me esconder. Se não gosta, se acha que eu me exponho demais, para de ler. Simples assim.
Hoje fui num dos lugares que mais me faz bem no mundo. E ele estava praticamente vazio. Só se ouvia o barulho dos pássaros e de uma criança brincando perto do chafariz. Meu sonho é me jogar naquele chafariz. Meu sonho é um dia poder olhar pra trás e lembrar de tudo que estou vivendo e tudo que ainda vou viver e poder dizer que valeu a pena. Valeu a pena ficar quase um ano longe desse lugar porque voltei na hora certa. Voltei pra conhecer as pessoas que realmente importam na minha vida. Voltei pra descobrir quem eu sou de verdade. Se meus antigos amigos, ou seja lá o que eles eram, me vissem agora, talvez não acreditassem. Tenho, sim, saudades de coisas que ficaram pra trás. Mas prefiro que elas fiquem lá atrás mesmo. Gosto muito mais de mim agora.
Hoje andei por alguns minutos num dos lugares que eu mais me sinto bem no mundo. Estava vazio. Mas semana que vem tudo volta ao normal. Meus dias vão ganhar cor novamente, meu sorriso vai ser maior, meus trabalhos vão continuar sendo deixados pra última hora. Só uma coisa vai mudar. Nossa amizade vai estar bem maior. Mais forte. Não precisamos estar na mesma sala de aula. Não precisamos ter os mesmos sonhos pro futuro. Podemos ser jornalistas, professores, historiadores, publicitários, fotógrafos, estilistas, não importa. We found love in a hopeless place. E, olha só, era verdadeiro.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Destrancada

A porta do meu quarto nunca fica trancada, a não ser quando estou dançando loucamente com os meus fones no ouvido e não quero ser pega no flagra no meio de uma coreografia não planejada. Meus cadernos, onde escrevo praticamente minha vida toda e tudo aquilo que sinto, não ficam escondidos e guardados a sete chaves. Minhas agendas de 3, 4 anos atrás estão ali, na gaveta da escrivaninha. Minha caixa de lembranças particulares está guardada na porta do meio do guarda-roupa, ao lado de alguns sapatos. É só abrir a porta do quarto pra ver o que eu estou fazendo. É só pegar meus cadernos, ler cada palavra que eu escrevo e, assim, descobrir tudo aquilo que sou e penso. É só abrir a gaveta pra saber tudo que fiz nos últimos tempos. É só abrir o guarda-roupa e a caixa pra saber alguns dos meus maiores segredos. Estou toda aqui, pra quem quiser ver. A única proteção que tenho é uma porta destrancada e capas de cadernos.
Nem me esconder eu sei.

Como você ainda não percebeu?

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Antes que alguém me mande calar a boca

Um misto de felicidade com dor. Vontade de gritar porque finalmente está acontecendo o que eu sempre quis e vontade de gritar porque eu não sei o que fazer agora. Mesmo quando está tudo certo, está tudo errado, disse eu pra uma amiga algumas horas atrás. Frase mais idiota que eu já disse na minha vida, mas talvez seja uma das maiores verdades também. Sempre quis receber as mensagens que eu recebo agora, sempre quis ter essa sensação de que uma pessoa no mundo gosta de mim ao mesmo tempo que eu gosto dela. Mas junto com tudo isso, vem a impossibilidade de estar com ela sempre que eu quiser, porque mesmo cidades vizinhas parecem estar do outro lado do mundo nesses momentos. Junto com isso vem o medo de não dar certo e sofrer ou de dar certo e aí ter que enfrentar o mundo, como disse minha amiga naquela mesma conversa. Aliás, falando nessa conversa, eu nunca pensei. Nunca imaginei que ela aconteceria. Não assim, não sobre isso, não tão delicada e querida desse jeito. Poucas pessoas sabem o que está acontecendo comigo. Todas essas poucas pessoas me apoiam, me dão conselhos, me fazem rir da situação. E não pensei que ia ter mais alguém pra me apoiar. Quero fazer parte da tua vida, não quero que tu se machuque, ela te faz bem?, ela é gente boa?, por que a vida é tão complicada?, disse minha amiga. Também quero muito que tu faça parte da minha vida, também não quero me machucar mesmo sabendo que qualquer coisa nesse mundo machuca, desde a quina da mesa até o amor mais profundo, ela me faz bem mas ela espalha todos os meus pensamentos em cima daquela mesma mesa que machuca, embaralha e depois pede pra eu arrumar em ordem e sabe, eu não sei que ordem é essa. Eu não sei qual é a ordem certa dos acontecimentos, porque eu nunca vivi nada disso e aí atropelo tudo. A vida é complicada porque a gente complica as coisas, amiga. Porque a gente sente demais e quer demais, porque a gente nem ao menos sabe o que sente e o que quer. Eu conto as coisas pra poucas pessoas, quando na verdade eu queria contar pra todo mundo. Mas, nas entrelinhas do que eu digo, todo mundo entende. Todo mundo sabe. As pessoas nos enxergam como querem, mas no fundo elas sabem como a gente é. A gente sabe como é, mas vive querendo ser diferente. Vive querendo mostrar pro mundo que a gente não é assim, que a gente é melhor, que a gente consegue. E conseguimos, mas não precisamos mostrar pro mundo. Só precisamos viver. Aceitar o medo de que dê errado e o medo de que dê certo e transformá-lo em coragem pra tentar. Arriscar pra ver no que vai dar. Pode não dar em nada. Mas também pode acontecer aquilo que eu sempre quis. Hoje tô feliz, mas tô sentindo uma dorzinha no peito. Estou gritando por dentro, mas mostro só o meu silêncio. Porque, se alguém escutasse, ia me mandar calar a boca.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

O amor que a vida traz

Você gostaria de ter um amor que fosse estável, divertido e fácil. O objeto desse amor nem precisaria ser muito bonito, nem rico. Uma pessoa bacana, que te adorasse e fosse parceira já estaria mais do que bom. Você quer um amor assim. É pedir muito? Ora, você está sendo até modesto.

O problema é que todos imaginam um amor a seu modo, um amor cheio de pré-requisitos. Ao analisar o currículo do candidato, alguns itens de fábrica não podem faltar. O seu amor tem que gostar um pouco de cinema, nem que seja para assistir em casa. E seria bom que gostasse dos seus amigos. E precisa ter um objetivo na vida. Bom humor, sim, bom humor não pode faltar. Não é querer demais, é? Ninguém está pedindo um piloto de Fórmula 1 ou uma capa da Playboy. Basta um amor desses fabricados em série, não pode ser tão impossível.

Aí a vida bate à sua porta e entrega um amor que não tem nada a ver com o que você queria. Será que se enganou de endereço? Não. Está tudo certinho, confira o protocolo. Esse é o amor que lhe cabe. É seu. Se não gostar, pode colocar no lixo, pode passar adiante, faça o que quiser. A entrega está feita, assine aqui, adeus.

E agora está você aí, com esse amor que não estava nos planos. Um amor que não é a sua cara, que não lembra em nada um amor idealizado. E, por isso mesmo, um amor que deixa você em pânico e em êxtase. Tudo diferente do que você um dia supôs, um amor que te perturba e te exige, que não aceita as regras que você estipulou. Um amor que a cada manhã faz você pensar que de hoje não passa, mas a noite chega e esse amor perdura, um amor movido por discussões que você não esperava enfrentar e por beijos os quais nem imaginava ter tanto fôlego. Um amor errado como aqueles que dizem que devemos aproveitar enquanto não encontramos o certo, e o certo era aquele outro que você desconfia que não lhe pertence. Aquele amor em formato de coração, amor com licor, amor de caixinha, não apareceu. Olhe pra você vivendo esse amor a granel, esse amor escarcéu, não era bem isso que você desejava, mas é o amor que lhe foi destinado, o amor que começou por telefone, o amor que começou pela internet, que esbarrou em você no elevador, o amor que era pra não vingar e virou compromisso, olha você tendo que explicar o que não se explica, você nunca havia se dado conta de que amor não se pede, não se especifica. não se experimenta em loja, como quem diz: ah, este serviu direitinho!

Aquele amor corretinho por você tão sonhado vai parar na porta de alguém que despreza amores corretos, repare em como a vida é astuciosa. Assim são as entregas de amor, todas como se viessem num caminhão da sorte, uma promoção de domingo, um prêmio buzinando lá fora, mesmo você nunca tendo apostado. Aquele amor que você encomendou não veio, parabéns! Agradeça e aproveite o que lhe foi entregue por sorteio.

Martha Medeiros

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Mudou

Engraçado como as coisas mudam de uma hora pra outra. Depois da meia-noite, tudo mudou. Tudo que eu sentia se modificou e tudo que eu não entendia se explicou. Dez minutos atrás eu estava desabafando com um amigo, dizendo tudo que me preocupava, falando dos meus medos, das minhas tristezas e dúvidas. E agora parece que tudo isso perdeu a importância. Os dez minutos atrás perderam o sentido. A festa começou e eu olhei pra novas pessoas. Eu ouvi músicas diferentes e não mais aquelas que costumavam ser trilha sonora para nossas impossibilidades. Eu não lembrei que você não estava lá. Eu não quis que estivesse. Na verdade, eu acho que foi bom desabafar. Botei pra fora, joguei na beira do asfalto toda a dor que eu sentia. Me esvaziei de você. E aí, comecei a me encher de coisas novas. De novos sons e melodias, de novas caras e sorrisos. Novas sensações. Velhas vontades saciadas de novas formas. Engraçado como as coisas mudam de uma hora pra outra. Até ontem eu recebia mensagens de arrependimento e chorava. Hoje eu recebo mensagens que me fazem sorrir. Por mais que eu saiba que não vai ser fácil, é bom saber que eu não estou sozinha e que eu não sou a única que sente.

Tu apareceu na hora certa.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Paracetamol

Quatro noites dormindo com a janela do quarto aberta. O calor era intenso e eu precisava desse pouquinho de ar noturno pra não morrer sufocada e afogada no meu suor. A cortina se balançava com a pequena quantidade de vento que havia lá fora. Conforme ia me aprofundando mais no sono, me livrava do lençol que até então estava em cima de mim. Mas não deixo que ele caia no chão. Mantenho o lençol enroscado em minhas pernas e braços. Preciso de algo pra abraçar, pra pegar, pra sentir, mesmo quando está tão quente que não suporto nem meus próprios pelos sobre a pele. Quatro noites dormindo com a janela aberta somados ao banho de chuva que tomei no domingo. Maior banho de chuva da minha vida. Daqueles que tu pode dizer, sem dúvidas, que lavou a alma. Mas eu lavei muito mais o corpo. Meus cabelos pingavam e minha blusa parecia ser uma extensão da minha pele de tão grudada em mim. Muita água. Muito vento. Muito sereno. Gripei. Acordei com dor de garganta, espirros, tosse e uma voz de travesti. Mentira, acho que travestis tem uma voz bem mais bonita que essa. Algumas palavras custam a sair e a risada sai toda falhada. Meus companheiros hoje foram um rolo de papel higiênico e um Afrin na cabeceira da cama. Dor no corpo, vontade de dormir pra sempre, esquecer que existe vida fora da minha casa, do meu quarto, do meu corpo. Às vezes parece que não existe vida nem dentro do meu corpo. Mas aí vem uma chuva e me lembra que existe, sim. Vem o sol queimando minha pele e me lembra que eu ainda sou capaz de transpirar, de sentir calor ou qualquer outra coisa que seja. Vem uma gripe em pleno verão pra me lembrar que eu tô viva.
Essa noite demorei pra dormir. A janela estava fechada, o calor me fazia querer arrancar cada fio de cabelo que me esquentava mais ainda e os pensamentos não queriam deixar minha cabeça descansar. Pensei em tanta coisa, em tanta gente, em tantos dias que já se foram, em tantos momentos que nunca mais vão se repetir. Às vezes tenho vontade de gritar e pedir com toda a minha força que eu quero tudo de volta. Que eu quero tudo outra vez. Do jeito que era. Do jeito que eu pensei que nunca seria. Nunca foi. Talvez só na minha cabeça. E, sabe, minha cabeça tá cansada. De pensar, de imaginar, de sonhar com o impossível. E já são duas da manhã e ela não consegue se desligar do mundo. Levanto, tomo um paracetamol, uma água com açúcar, qualquer coisa que me faça dormir. Coloco mais Afrin no nariz pra ver se ele para de escorrer. Vou até o banheiro e volto pra cama. Antes de deitar, eu fico sentada, pensando em tudo mais uma vez. Pela última vez. Porque depois vai ser só eu, meu travesseiro e os sonhos do sono, aqueles que não tem pretensão nenhuma de acontecer. Mas como eu queria que alguns acontecessem. Como eu queria que fosse assim tão fácil. Fechar os olhos e só ver tudo acontecendo naturalmente. Sem precisar fazer força nenhuma, sem sentir dor, sem precisar carregar papel higiênico pra limpar o nariz. Nunca fiquei gripada num sonho. Nunca senti calor nos sonhos. Queria dormir pra sempre. Sonhar pra sempre. Parar de pensar. Parar de espirrar. Mas, felizmente, isso não é possível. Tenho que continuar aqui, tentando dormir com esse calor, com o lençol enroscado nas minhas pernas e o travesseiro atravessado de uma forma que eu quase posso abraçá-lo. Porque eu quase consigo. Abraçar e dormir. Eu quase consigo. Parar de pensar e parar de querer tanta coisa em tão pouco tempo. Eu quase consigo. E durmo. Mas não pra sempre. Durmo pra acordar amanhã novamente e ver que o sol ainda está lá fora e minha gripe ainda está aqui dentro e minha voz ainda não voltou ao normal. Mas sempre tem um amigo pra dizer que me ama mais do que a minha voz e outra amiga pra rir da minha situação e outra pra dizer bem feito, quem mandou dormir com a janela aberta? E sempre tem minha mãe pra concordar com essa amiga, mas depois pedir se eu quero tomar mais um pouco de xarope pra parar a tosse. Sempre tem mais um dia pra viver, mesmo que a gente não saiba se vai mesmo ter mais um dia depois desse. Então eu durmo, acordo, durmo, acordo. E sonho. E tomo banho de chuva. E me queimo no sol. E dou risada de tudo e de mim mesma. E falo, mesmo com a minha voz de travesti. E gasto mais um rolo de papel higiênico. E vivo. Porque a vida é muito, muito complicada. Mas sempre vai ter alguns amigos pra te fazer bem e um paracetamol pra te fazer dormir. Mas não pra sempre.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Vinte e oito

Eu não sei com quantas pessoas você fala enquanto fala comigo. O mundo virtual pode ser muito bom, mas tem esse problema. Você nunca sabe quem realmente fala a verdade e quem fala a mesma coisa pra todo mundo e acaba enganando todo mundo. Inclusive você. Mas aí, tem aquelas pessoas que você simplesmente não se importa. Não quer saber com quantas pessoas ela está desabafando além de você, pra quantos outros ela disse eu te amo um segundo depois (ou antes) de ter dito pra você. É aquele típico caso: fala com todo mundo, mas por favor, fala comigo também. Me conta como foi seu dia. Me faz rir. Desabafa, fala o que te aflige, o que te dói. Fala pra outras vinte e sete pessoas, mas fala pra mim também.
E, olha só, às vezes você aparece. Às vezes você lembra de mim e me dá oi. E eu derreto. Mas aí eu percebo que o constrangimento veio pra ficar. Que as nossas conversas nunca mais serão as mesmas. Que uma risada sempre vai estar acompanhada de tensão, que um xingamento que antes era de brincadeira, pode ser levado cada vez mais a sério. Então, por favor, não leva a sério. Eu queria que você tivesse me levado a sério naquele tempo que já passou, agora não precisa mais. Não precisa se preocupar se eu parecer triste, se parecer que eu ainda estou apaixonada por você. Não estou. Nem triste, nem apaixonada. Estou apenas aqui. Querendo te ouvir. Querendo que você me ouça mesmo quando eu não tenho nada pra dizer. Querendo que você não me esqueça, mesmo quando tiver outras vinte e sete pessoas pra conversar. Conversa com elas. Conta tudo pra elas. Mas não me deixa saber disso. Me faz pensar que eu sou a única online. No mundo virtual e no seu mundo.
Mas, olha, só pra frisar: não estou mais apaixonada. Só estou querendo ser aquilo que eu sempre fui. Uma no meio de vinte e sete. Porque, mesmo que pareça a coisa mais triste do mundo, eu nunca fui tão feliz.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Lado B

Todo mundo tem um lado B. Todo mundo faz coisas que não conta pra ninguém ou que gostaria que ninguém soubesse. Eu tenho um também. Descobri há pouco tempo. Mas ao contrário de todo mundo, ou da maioria das pessoas, eu não escondi. Deixei a mostra pra quem quisesse ver. E, pra quem não viu, eu contei. Me orgulho de ser assim. Um disco que pode ser escutado dos dois lados. Confesso que tem alguns riscos e algumas músicas podem falhar em determinados trechos, mas eu deixo você ouvir mesmo assim. Mesmo riscado. Porque todo mundo tem falhas e riscos. E todo mundo tem um lado B, por mais que diga que não. Já dizia a música, o que você faz quando ninguém te vê fazendo? E o que você queria fazer se ninguém pudesse te ver? Eu, várias coisas. Algumas eu nunca tinha feito e quando fiz, quis contar pra todo mundo. Alguns me olharam estranho. "A Fernanda fazendo isso?!" Sim, amigos, a Fernanda fazendo isso. Quem diria né? Quem diria que aquela menina normalzinha da escola não era assim tão normal, afinal de contas? Ainda bem que não sou normal. Ainda bem que surpreendo as pessoas. Assim são os discos. Alguns gostam, outros não. Alguns amam todas as faixas, outros preferem ouvir só algumas. E sempre tem aquelas que só ouvem o lado A. Que desprezam o que tem do outro lado. Mas eu prefiro o B. Prefiro os detalhes, o que torna cada um único e insubstituível no mundo. Se você tem vergonha de mostrar o seu, eu não posso fazer nada. Mas o meu está aí pra quem quiser ouvir. Pra quem quiser gostar. E se não gostar, por favor, não precisa fingir.


Pra terminar, só queria agradecer a todo mundo que sabe do meu lado B e continua aqui, ouvindo todas as canções comigo. Não preciso dizer que amo vocês, porque vocês sabem.